Maritza Caneca
Maritza Caneca
Maritza Caneca
1964, Rio de Janeiro, Brasil
Vive e trabalha em Miami, Estados Unidos
Maritza Caneca é uma artista visual que iniciou sua trajetória na década de 1980 e dedica-se à direção de fotografia desde 2002, atuando em comerciais, curtas-metragens, documentários e também em segunda unidade de longas. Formou-se bacharel em Artes e Comunicação Social na Faculdade da Cidade em 1982. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Dedica seu tempo entre Rio de Janeiro, Miami e Lisboa e é artista residente do The Bakehouse Art Complex em Miami desde outubro de 2017.
Foi selecionada para expor seu trabalho intitulado “Martitza Caneca Pool Series”, com curadoria de Vanda Klabin, na Exposição Paço Imperial durante as Olímpiadas de 2016 no Rio de Janeiro. A exposição foi aclamada pela crítica e visitada por mais de 30.000 visitantes. Entre suas mostras recentes encontram-se: a série de “ Piscinas” na Galeria Bossa Nova em Miami (2016), uma intervenção artística durante a remodelação da piscina no famoso Hotel Copacabana Palace(2017); a individual intitulada “Water Diaries”, com curadoria de Adriana Herrera na Galeria Clima, em Miami (2018), a individual “Entre Águas” na Galeria Anita Schwartz , no Rio de Janeiro, Brasil (2018); exposição na Wassermanprojects em Detroit(2019); a exposição na PH21 Gallery, Budapest, Hungria(2019).
Com o desenvolvimento do seu olhar de diretora de fotografia durante mais de 30 anos trabalhando em cinema, Maritza Caneca busca os detalhes geométricos, a estética, a palheta de cor, a distorção do movimento da água. Percebe-se também a memória do lugar; tempo; pessoas, religião, fé, purificação, união, limpeza.” Com o olhar poético ligado a simetria em primeiro plano, as linhas em movimento, as distorções através da própria simetria, suas obras são retratos da arquitetura em movimento, tendo a água e o geométrico como elementos simbólicos.
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10.Mai.2023 - 05.Ago.2023
Anita Schwartz XXV
A exposição Anita Schwartz XXV é uma celebração aos 25 anos de aniversário da galeria, onde essa história é contada a partir dos artistas e suas obras. A pesquisa curatorial percorreu o arquivo da galeria, fundada em 1998, em busca de imagens e textos críticos das exposições, feiras e publicações, com o intuito de construir uma linguagem possível sobre as experiências artísticas que moldaram o seu programa.
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24.Nov.2021 - 22.Jan.2022
Visitas ao Acervo 3
O programa de exposições Visitas ao acervo, que fornece um panorama de obras do acervo da galeria através de uma seleção curada, chega à sua terceira edição com obras de Alexandre Vogler, Cadu, Cristina Salgado, Eduardo Climachauska, Dudu Garcia, Felipe Barsuglia, Livia Flores, Maritza Caneca, Nuno Ramos, Paulo Vivacqua, Renan Cepeda e Rodrigo Braga.
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Maritza Caneca: Entre águas
Se tal conjunto de árvores, montanhas, águas e casas a que chamamos paisagem, é belo, não é por si mesmo, mas por mim, por minha própria graça, pela ideia ou sentimento que a ele atribuo.
Charles Baudelaire, “Salão de 1859: a paisagem”, em Paisagem moderna.
Como uma observadora atenta que produz as suas próprias condições de observação, Maritza Caneca dá continuidade à série fotográfica das piscinas para a constituição de sua experiência plástica. Instala suas lentes em um novo território ancorado no passado, como se estivesse a reativar um tempo histórico: a captura dos efeitos poéticos das lendárias e fascinantes termas de Budapeste, que trazem um conteúdo de memória, circunstanciado por algo distante que vem à tona, agora presidido pelo seu olhar contemporâneo.
O vale de Budapeste foi ocupado pelos celtas e recebeu, no Império Romano, a denominação de “Aquincum” por causa da formação geológica da região. Acredita-se que esse nome venha da palavra celta para água ou da expressão em latim aqua quinque, que significa cinco águas. O imperador romano Marco Aurélio conhecido como o imperador filósofo escreveu, nesse território, a sua série de reflexões conhecidas como “Meditações” e essa obra sobreviveu graças às compilações dos gramáticos bizantinos. As termas de Budapeste incluem centenas de fontes termais, e o papel dos banhos públicos como um espaço social era algo comum do cotidiano do povo romano. As suas nascentes foram canalizadas e sua s bacias transformadas em piscinas de águas termais, após a chegada do Império Otomano no século XVI.
Nesta exposição intitulada “Entre águas”, a artista amplia seu repertório com o tema que persiste na articulação de sua gramática plástica. Esse olhar o mesmo ganha uma intensa intimidade com a cor e traz a força de sua emergência na expansão do campo cromático através de vestígios de realidades históricas distintas. Para capturar uma nova área de sensibilidade pictórica, Maritza Caneca preserva as qualidades transitórias da água.
A sensualidade que transborda da cor prolonga-se por um ondulado e úmido azul, um azul, azul, azul, com uma luminosidade que aproxima as diferenças de tonalidades em torno de uma dissonância que trazem uma impressão de serenidade e silêncio. Por vezes surge um fragmento amarelo, um brilho talvez oriundo de um crepúsculo. Deixamo-nos contagiar pelos seus caprichosos ritmos, ora irregulares, ora indefinidos, mas repletos de qualidades poéticas e visuais. São elementos aquáticos que pulsam discretamente, beneficiam-se do geométrico e relutam em se apresentar por inteiro. Prenunciam formas tênues e imprecisas, apresenta-nos cenas de viés, coloca-nos em espaços de indeterminação como um tempo condensado.
São pequenos núcleos de saturação pictórica que se desdobram intensamente na superfície, embora contidos, mas ostentam geometrias incertas, com suas linhas escorridas e ondulantes. Impõem seus ritmos oblíquos e precipitam o nosso olhar para ângulos flutuantes e caprichosos. Suas formas aquáticas correm como sistemas de turbulência, como improvisações cromáticas e geram depósitos de cores estratificadas, deslocadas para outros suportes, redondos e integrados a uma ideia de escotilha. Nessa gravitação crescente em torno do azul, os globos circulares luminosos e rutilantes exaltam a luminosidade das cores através de frágeis tramas geométricas.
Os pintores renascentistas recebiam encomendas para registrar uma data importante, como testemunhar uma cena de casamento e muitas vezes na forma de tondo, que são pinturas circulares que se tornaram muito populares na Itália e na França no século XV. Tondo é uma forma abreviada do termo italiano rotondo, que significa redondo, circular, e Maritza Caneca ronda essas superfícies e ali instala suas faixas de ondulações em um constante estado de devir para consolidar uma nova respiração para o seu repertório de trabalho.
O elemento aquático, um agente ativo das obras dos coloristas, sugere uma pluralidade de significados e pode se apresentar, às vezes, como um documento visual perturbador, aparentemente aberto a um terceiro sentido e trazer uma nova porosidade para a nossa percepção. Essa forma, quase volátil, porta a ideia de algo transitivo e ganha uma presença permanente, como se fosse uma improvisação cromática, um elo necessário para entender a subjetividade da artista e o elemento coletivo.
Maritza Caneca iniciou sua trajetória artística nos anos 1980 como fotógrafa de still em filmagens cinematográficas e como diretora de fotografia de cinema, e seu olhar traz um fascínio pelo movimento. Nesta exposição, a produção de imagens não se restringe à sua primeira condição especular; estão presentes outras investigações processuais e essa experimentação atravessa diversos suportes que inclui a possibilidade de constituir-se em objeto, como as fotografias das piscinas transferidas para placas de azulejo queimado em alta temperatura e as esculturas em forma de cubo.
A artista anuncia também um novo fluxo de trabalho que não apenas traduz o movimento, mas está em movimento, com uma projeção sonora em grande escala: aponta a sua câmera para descortinar o cotidiano das piscinas de Budapeste em sua imensidão de vida, diluído em uma fração delas, como se fosse uma reflexão sobre os espaços urbanos, um tempo existencial que ali se condensa em imagens em disjunção prismática, planos de fraturas, indiferenciadas e anônimas. As imagens das piscinas de ondas das termas Gellert, Széchenyi, Luckas, em Budapeste, integram-se à sua obra como objeto móvel e enriquece esse universo de tempos flutuantes com a melodia de Concerto para orquestra, do compositor húngaro Béla Bartók com suas dissonâncias e uma tensão tonal permanente. Maritza Caneca sobrepõe módulos cromáticos, trazendo um jogo lúdico de sons descontínuos em parceria com natureza instável da cor. Ela encontra sua gramática poética no ritmo da vida real e somos tragados pelas suas sugestivas imagens que se interpenetram nesse território impreciso que singulariza a sua experiência estética, uma cadeia de instantes que nos fazem dialogar com a sua captura do jogo ilusório do real através do seu olhar sensível e investigativo.
Vanda Klabin