Rochelle Costi
Rochelle Costi
Rochelle Costi
1961, Rio Grande do Sul, Brasil - 2022, São Paulo, SP
A artista formou-se em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), Porto Alegre em 1981.
Como artista multimídia, trabalhou com fotografia, vídeo e instalação. Sua concepção de fotografia traz referências à prática do colecionismo, o que se reflete diretamente em seu trabalho, geralmente organizado em séries. Utiliza-se da observação do cotidiano como ponto de partida para muitos projetos. A artista mistura fotografias com diversas formas de expressão artística e muitas vezes desloca essas formas para a instalação. Trabalha com escalas diferentes e as confronta em suas imagens. Joga com pontos de vista causando certo estranhamento e desconforto, sensações que nos prendem em suas imagens e nos fazem refletir sobre elas. Impossível vê-las, é preciso olhá-las. A percepção do espectador é ativada pelo estranhamento e /ou pela identificação com os elementos apresentados.
Ressignificar o improviso e a informalidade populares, potencializando a percepção das relações público / privadas através da pesquisa no contexto urbano que se faz presente em toda sua trajetória como em Quartos - São Paulo ( XXIIV Bienal de São Paulo,1998 ), Pratos típicos (Arte Cidade II, 1987), Dinâmica comum ( Instituto Tomie Ohtake, 2005), entre outros.
Destacam-se as exposições realizadas nos seguintes locais:
- Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Centro Cultural São Paulo
- Museu da Imagem e do Som (São Paulo)
- Espaço Cultural Casa da Ribeira
- Sala Petrobrás Artes Visuais (Natal)
- Paço Imperial (Rio de Janeiro)
- 24ª e 29ª Bienal Internacional de São Paulo
- 11th International Architecture Exhibition (Veneza)
- I Bienal del Fin del Mundo (Ushuaia)
- Pinacoteca do Estado de São Paulo
- Neuer Berliner Kunstverein (Berlim)
- Centre de la Vieille Charité (Marselha)
- Walker Art Center (Minneapolis)
- El Museu del Barrio (Nova York)
- Centro de Arte Reina Sofia (Madri)
- 6ª e 7ª Bienal de La Habana, na Fundación La Caixa (Barcelona).
Dentre as exposições individuais, destacam-se:
- Passatempo, Museu do Trabalho, Porto Alegre, 2018;
- Tombo:, Casa da Imagem / Museu da Cidade, São Paulo (2012/2018);
- Objeto encontrado, Centro Cultural São Paulo, São Paulo (2009);
- Uma Festa, Centro Universitário Maria Antônia, São Paulo (2007);
- Dinâmica comum, Instituto Tomie Ohtake (2005).
Participação em:
- III Beijing Photo Biennial, 2018;
- 24a e 29a Bienal Internacional de São Paulo (1998 e 2010);
- 6a e 7a Bienal de La Habana (2000 e 2002);
- 2ª Bienal do Mercosul (1999),
Além das mostras:
- Más Allá del Documento, no Centro de Arte Reina Sofia (Madri, 2000);
- Farsites: Urban Crisis and Domestic Symptoms in Recent Contemporary Art.
- Centro Cultural Tijuana, México;
- San Diego /Museum of Art, EUA;
- I Bienal del Fin del Mundo (Ushuaia, 2008);
- 1ª Trienal de Fotografia Masp/ Pirelli (2013);
- Memórias da Infância e Avenida Paulista, no Masp (2016 e 2017);
- 20a Bienal de Arte Paiz, na Guatemala (2016), entre outras.
Artista premiada 6 º Prêmio CNI SESI SENAI Marcantônio Vilaça para as Artes Plásticas, 2017.
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10.Mai.2023 - 05.Ago.2023
Anita Schwartz XXV
A exposição Anita Schwartz XXV é uma celebração aos 25 anos de aniversário da galeria, onde essa história é contada a partir dos artistas e suas obras. A pesquisa curatorial percorreu o arquivo da galeria, fundada em 1998, em busca de imagens e textos críticos das exposições, feiras e publicações, com o intuito de construir uma linguagem possível sobre as experiências artísticas que moldaram o seu programa.
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02.Mar.2023 - 15.Abr.2023
Dialetos do Firmamento
Por meio de suas linguagens e modos sensíveis de compreensão, os trabalhos dos artistas de “Dialetos do Firmamento” constelam imaginários, desenhando novas direções para modos plurais da existência, integrada à imensidão dos poderes ocultos do universo.
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20.Jun.2021 - 15.Ago.2021
Percurssos
"A exposição Percursos é fruto de diferentes momentos e produções artísticas que fazem parte da história da galeria. Dialogam juntos trabalhos do acervo e de artistas representados, que datam da década de 60 até os dias atuais, entre pinturas, esculturas, fotografias e desenhos."
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23.Jan.2019 - 31.Mar.2019
Visitas ao Acervo 2
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21.Set.2016 - 03.Dez.2016
Contabilidade
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta de 21 de setembro a 3 de dezembro de 2016 a exposição “Contabilidade”, com trabalhos recentes e inéditos de Rochelle Costi, celebrada artista nascida em 1961, em Caxias do Sul, e radicada em São Paulo. Os trabalhos ocuparão todos os espaços expositivos da galeria do Baixo Gávea, no térreo e no terceiro andar, na maior individual da artista na cidade, e a primeira na Anita Schwartz Galeria de Arte. O texto crítico é de Bernardo Mosqueira.
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05.Fev.2015 - 14.Mar.2015
A primeira do ano – Pequenos formatos
Anita Schwartz Galeria de Arte, apresenta a exposição "A primeira do ano - Pequenos Formatos", com cerca de 50 obras inéditas e recentes de 22 artistas, como Abraham Palatnik, Ana Holck, Angelo Venosa, Bruno Vilela, Carla Guagliardi, Claudia Bakker, Daisy Xavier, Estela Sokol, Everardo Miranda, Gustavo Speridião, José Paulo, Maria Lynch, Niura Bellavinha, Nuno Ramos, Otavio Schipper, Rochelle Costi, Thomas Florschuetz, Waltercio Caldas, Wanda Pimentel, entre outros.
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Contabilidade
O título da recente exposição individual de Rochelle Costi na Anita Schwartz Galeria, no Rio de Janeiro, dá um norte duplo para as imagens ali organizadas pela artista. Se por um lado a palavra “contabilidade” remete, segundo um dicionário, à “ciência de caráter teórico e prático que se dedica ao estudo dos métodos de cálculo”, por outro lado ela também pode ser vista como a junção entre as palavras “contar” e “habilidade”. É nessa segunda concepção menos científica e mais aglutinadora do título da exposição que me parece que a pesquisa da artista dialoga de modo mais próximo.
Além disso, o verbo “contar” também pode ser interpretado de várias maneiras. A presença da contagem numérica e sua relação com a matemática é um dado que se faz muito presente na exposição, porém tenho a impressão de que esse significado se encontra também colado à definição do “contar” como um ato narrativo acerca de um tema. Nesse projeto, portanto, Rochelle Costi se encontra em um movimento pendular entre a observação e designação de números para diferentes existências no mundo e a sua potencialidade narrativa e ficcional por meio desses mesmos elementos. Esse último aspecto dessas obras me parece constante à sua pesquisa como artista visual desde o início de sua carreira. Suas fotografias, para além da documentação de espaços arquitetônicos, objetos e pessoas, estão mais interessadas em incitar o olhar curioso por parte do público e estimular sua capacidade de imaginação mental e narrativa a partir de seu encontro com essas imagens que tendem à grande escala e à fisicalidade frontal.
Parte dessa exposição diz respeito às obras que a artista mostrou na 20ª edição da Bienal de Arte Paiz, realizada na Guatemala. Após a experiência de percorrer diferentes lugares do país durante uma viagem de pesquisa para a bienal, Rochelle lançou seu olhar em torno dos diferentes modos de exibição de produtos para venda e do seu excesso numérico e cromático. Na exposição são mostradas cinco grandes fotografias que trazem ao espectador os espaços das tendas de mercados populares que vendem cerâmicas, santos católicos, roupas, têxteis e, por fim, um mercado de frutas e verduras. Há nessas imagens, certamente, um estranhamento entre quem fotografa e o que é fotografado; por mais que seja possível afirmar que espaços semelhantes a esses são encontrados de modo fácil no Brasil natal da artista, certamente as referências, por exemplo, às culturas maias das cerâmicas, as placas em espanhol e os trançados dos têxteis, se apresentam como novidades para seu olhar.
A amplidão horizontal das imagens chama a atenção de um modo diferente daquele que o percorrer físico nesses espaços chamaria. Ao sermos obrigados a observar o congelamento das imagens proporcionados pela fotografia, rapidamente percebemos o enorme número de objetos que foram organizados ali pelos vendedores a fim de convidar à compra. O caráter de compra e utilidade desses objetos, então, fica em segundo plano e é substituído por um convite à nossa contemplação. Nosso olhar se perde nesse oceano de detalhes que é estimulado pela inserção de pequenos números que se põem a contar o número de elementos que compõem cada uma dessas imagens. Ao movimentar nossas retinas por essas imagens, coisas se tornam números e o inevitável desejo humano de organizar e colecionar – desejo esse muito relacionado às próprias práticas antropológicas e etnográficas da fotografia – se faz claro.
Essas fotos, porém, não foram os únicos elementos mostrados pela artista na Guatemala. Havia também a projeção de um vídeo que reunia pequenos recortes do olhar de Rochelle acerca do cotidiano e do trabalho no espaço público na Guatemala. Em câmera lenta, pessoas armam suas barracas, carregam objetos e escancaram aos nossos olhos o processo de composição e decoração dessas frágeis lojinhas. Com uma trilha sonora emotiva, a artista parece interessada também nos bastidores criativos que fazem com que chegue posteriormente à documentação desses espaços destinados a mostrar coisas. Por fim, acima do vídeo e das fotos, uma série de bolas de borracha feitas e pintadas artesanalmente apresenta numerações e traz para a tridimensionalidade a quantificação da experiência humana comum à exposição e aos mercados populares.
Essa soma de obras de Rochelle Costi, conforme dito aqui, exemplificam sua habilidade em saber contar histórias a partir de imagens. Poderíamos contemplar essas imagens sem nenhuma referência à Guatemala e ainda assim seríamos capazes de imputar nessas fotografias outras possibilidades de pertencimento geográfico e de atribuição de sentido à presença desses números. No segundo andar da exposição, endossando essa interpretação acerca de sua produção, há dois trabalhos que são também exemplares dessa capacidade polissêmica do encontro entre contar matematicamente e contar literariamente.
“Coleção de artista” se trata da reunião de centenas de objetos que representam corações coletados pela artista há mais de duas décadas. Retirados do seu âmbito doméstico (precisamente de seu quarto) para o espaço institucional, são mostrados também com números que mais ficcionalizam do que informam; na ausência de um indicador que aponte a origem e a história por trás de cada um deles, cabe novamente a ação imaginativa por parte do espectador. Por fim, no vídeo “Dezesseis” a artista tece uma homenagem afetiva à passagem do tempo de sua própria filha. Atualmente com dezesseis anos, ou seja, nascida em 2000 e exemplo de uma geração que tem toda sua existência embebida pela fotografia digital, a obra dividida em duas imagens reúne de trás-para-frente e vice-versa fotos e vídeos do crescimento e experimentação do mundo por parte desse membro de sua família.
Seja com um olhar voltado para a sua esfera privada e afetiva, seja em relação ao espaço público da alteridade, parece constante à pesquisa de Rochelle Costi um interesse pela atividade humana e pela sua vitalidade. Podemos catalogar aquilo que nos rodeia, mas a potência vital sempre arranjará uma maneira de escapar aos números e aos documentos – assim como suspeito que algum desses objetos presentes nas suas fotos deve ter ficado sem um número. O que essa exposição e sua produção nos fazem lembrar é que não adianta saber contar se não temos ciência do que queremos contar. Felizmente, Rochelle segue a experimentar e nos mostrar que a vida ainda pode e deve ser contada de muitas maneiras.
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Rochelle Costi - (ao meu amor)
A produção da artista gaúcha Rochelle Costi teve início em meados dos anos 1980 e, desde então, a artista vem produzindo fotografias, vídeos, objetos e instalações que normalmente integram séries para as quais Rochelle se dedica de forma plena e intensa. Mesmo que grande parte de sua obra pertença ao campo da fotografia e que sua produção demonstre interesse sobre as questões da memória, seu trabalho está longe de se restringir à relação com fotografias de arquivo.
Apesar de ter participado de diversas mostras importantes como o Panorama da Arte Brasileira (1995), VI e VII Bienal de Havana (1997, 2000), II Bienal de Fotografia de Tókio (1997), XXIV e XIX Bienal de São Paulo (1998 e 2010), II Bienal do Mercosul (1999), Bienal de Pontevedra (2000) e Bienal de Cuenca (2009), e mesmo tendo realizado grandes individuais entre dezenas de outras exposições, Rochelle participou relativamente de poucas exposições no Rio de Janeiro.
Na exposição “Contabilidade”, sua primeira individual na Anita Schwartz Galeria de Arte, Rochelle Costi optou por retomar a instalação homônima elaborada no início de 2016 para a 20ª Bienal de Arte Paiz, na Cidade de Guatemala, além de reunir um conjunto de trabalhos inéditos formado por um tríptico fotográfico, um vídeo, um GIF e uma instalação de parede formada por mais de 200 corações de diversos materiais e origens, coletados pela artista nos últimos 23 anos.
De algum modo, a forma como Rochelle desenvolve seu trabalho está ligada a como uma criança se relaciona com objetos encontrados. Por constantemente construir e reconstruir uma ética própria, e por ser uma forma de relação encantada e mágica com a realidade, o brincar da criança é o experimentar de entendimentos sobre o mundo e está relacionado com a descoberta de como se construir e se expressar dentro dele. O brincar é uma importante via de subjetivação e de experimentação da ética, da liberdade e da construção de si em relação ao outro e ao entorno.
Os próprios temas de infância e identidade são recorrentes no trabalho de Rochelle. Na obra “Intimidades”, de 1984, a artista reuniu suas primeiras coleções da infância feitas de caquinhos e fitas numa caixa de madeira e vidro, dentro da qual podemos ver também a fotografia de duas meninas. Talhadas de forma amadora na madeira vemos a palavra “intimidades” e a expressão “a vesga sou eu”. Costi, aos dois anos de idade, acordou repentinamente estrábica, e os exercícios ópticos para corrigir o estrabismo são parte importante das memórias de seus primeiros anos. A relação com a imagem através daqueles aparelhos oftalmológicos, constituinte de seu interesse pelos exercícios do olhar, se transformou na relação com o mundo através do mecanismo da câmera.
Certamente, o tempo passa para os objetos e para as pessoas, sempre de maneiras distintas. A obra “Intimidades” continua dizendo “eu sou a vesga”, mesmo que a Rochelle de hoje possa não ser aquela menina estrábica. Os indivíduos envelhecem, e suas aparências e identidades se transformam. O vídeo inédito presente na exposição, intitulado “Dezesseis”, também trata de identidade, representação, infância e transformação: é uma animação a partir de centenas de fotos, que mostra o crescimento de Lola, filha de Rochelle, que completou 16 anos neste ano. Se na série “Contabilidade” as fotografias mostram a numeração sequencial de objetos no espaço, o vídeo “Dezesseis” conta o tempo, evidenciado no acompanhamento do crescimento da criança.
Ao investigar seu trabalho desenvolvido durante as últimas três décadas e meia, é possível perceber a constância de um interesse pelo ambiente doméstico, pela intimidade, pelas pequenas narrativas e pelas situações e objetos do cotidiano. A obra de Rochelle Costi nos aponta maneiras alternativas de perceber a realidade: opera transformações em nossas capacidades de atenção e interpretação com uma afirmação irrefutável: a banalidade não existe.
Numa sociedade em que as relações ainda estão cada vez mais costuradas pelas lógicas do mercado e do capital, aquilo que não aparenta ser útil e eficaz é comumente entendido como desinteressante, se torna invisível. A percepção, mais do que uma forma de receber a realidade, é uma atividade de criação do mundo e das formas que escolhemos para estar nele. O trabalho de Rochelle nos oferece a capacidade de nos relacionarmos com o mundo de uma maneira mais poética, encontrando ou construindo rimas e dissonâncias.
Tudo o que o humano produz se origina de necessidades básicas (alimentar-se, abrigar-se, relacionar-se, compreender-se etc.) e é criado a partir de uma configuração específica de habilidades e possibilidades. Isso, que é entendido por Técnica, acontece sempre dentro do que chamamos de Cultura. Nos trabalhos de Rochelle vemos um fascínio por aquilo que escolhemos para nos cercar, e é a partir desses fragmentos materiais do mundo, ou da cultura, que Rochelle complexifica leituras e investiga o humano. Não apenas os objetos que guardamos ou descartamos, mas também as fotografias de arquivo ou encontradas, quando usadas, inspiram interesse em Rochelle dessa mesma maneira. E é por isso que algumas vezes seus trabalhos podem ser vistos através de um prisma antropológico ou sociológico.
A instalação “Contabilidade”, que é composta por um vídeo, cinco fotografias em grande formato e dezenas de bolas de borracha feitas artesanalmente, nasce exatamente da fascinação da artista pela cultura popular. Nesse caso, a instalação foi desenvolvida a partir de uma vivência na Cidade de Guatemala para a 20ª Bienal de Arte Paiz. Nos trabalhos de Rochelle podemos perceber um interesse recorrente sobre a diversidade das “formas de mostrar” da cultura popular. Muitas vezes, suas obras são a transposição para o contexto institucional da arte contemporânea das soluções expositivas do repertório popular. No caso de “Contabilidade”, não apenas a diversidade dos objetos da cultura tradicional local pode estar fadada ao fim ou à adequação ao gosto dos turistas consumidores diante da globalização, mas também a forma singular de expor os objetos pode ser transfigurada. Mais uma vez, está presente a pesquisa da artista sobre a relação entre a representação e a ação do tempo sobre as identidades, mas essa série de fotos nos faz lembrar, também, que o trabalho de Costi é muito ligado ao interesse na experimentação das formas de expor e de ocupar o espaço.
Em momentos do passado, a artista fotografou quartos de dormir de pessoas de São Paulo, registrou pratos de comida de indivíduos de origens diversas, retratou imóveis cujas portas e/ou janelas haviam sido muradas, espalhou variadas casas de cachorro pelas ruas do México, criou toalhas de mesa impressas com imagens de cinzeiros sujos, plantas mortas, frutas podres e pés de galinhas, fotografou objetos no interior de uma casinha de bonecas, organizou peças esquecidas dentro de um antigo hospital e registrou os encontros incomuns entre objetos e plantas encontrados pelos caminhos e cantos da cidade. Em todas essas séries, são as rimas e dissonâncias, diferenças e semelhanças entre cada um dos trabalhos, que tornam sensível o invisível; são obras que nos apontam para o que está além das bordas do trabalho. A representação é necessariamente uma não-presença, e o fato de o homem estar quase sempre obscenamente ausente das fotografias de Rochelle acaba por evidenciá-lo como o principal, (quase sempre) oculto e incontornável objeto de investigação da artista.
O interesse de Rochelle Costi pelo humano, e por aquilo que ele escolhe para lhe cercar, se manifesta não apenas nos resultados de seus trabalhos, mas, também, na importância do colecionismo para a dinâmica de seu processo criativo. A artista, desde a infância, coleta objetos do mundo, organizados em conjuntos definidos por complexidades das mais variadas, e permite que eles a cerquem até o dia em que se transformam em outras coisas, outros grupos, ou em trabalhos. Foi assim que nasceu a coleção de corações presente na exposição “Contabilidade”, nomeada “Coleção de artista”, em construção há mais de 23 anos. Há algo muito singular sobre este trabalho: o coração, que todo humano carrega dentro de si, é provavelmente o símbolo mais prolífica e diversamente representado. A força dessa coleção está no fato de que, ao mesmo tempo em que cada um deles pode representar a unidade humana, pode representar também aquilo que nos une uns aos outros.
O colecionar se relaciona com a ação de contar, procedimento principal da maior parte dos trabalhos dessa mostra, mas também com a forma pela qual Rochelle organiza suas séries. As fotografias em “Contabilidade” apresentam elementos organizados em um mesmo conjunto e que, por isso, apresentam uma mesma semelhança-critério e algumas diferenças. É dessa mesma forma, por exemplo, que foi organizada a série de fotos “Quartos”, que Rochelle apresentou na Bienal de São Paulo, em 1998, a Bienal da Antropofagia: um conjunto de fotografias que tinham em comum o fato de retratarem quartos de dormir na cidade de São Paulo (semelhança-critério), mas de pessoas completamente diversas (diferenças).
Manipulando e/ou assinalando frações da cultura com a intenção de compartilhar sua forma de percepção, Rochelle parece lutar contra o desencanto do mundo e querer alterar a durabilidade de suas experiências de percepção poética. Há, no interesse de Costi pelos fragmentos do mundo, um certo elogio à diversidade e uma angústia pela manutenção da coexistência com o diverso. Rochelle Costi, inconformada, parece entender que tudo pode se transformar, mas nada precisa acabar.
Bernardo Mosqueira, setembro 2016.