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Rodrigo Braga

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Rodrigo Braga

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Rodrigo Braga

Nascido em Manaus em 1976, ainda na infância mudou-se para Recife, onde graduou-se em Artes Visuais pela UFPE (2002). Atualmente vive entre Paris e Rio de Janeiro.

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Seu trabalho tem se desenvolvido através de práticas imersivas em diversas paisagens ao redor do mundo. Com práticas bastante físicas, suas criações assemelham-se a ritualizações dos espaços e seus elementos, por meio da performance ou de construções manuais in situ, também aliada ao desenho, à fotografia, ao vídeo e a instalações site specific. Embora com alto teor poético e subjetivo, suas obras tangenciam questões políticas centrais das discussões ambientais atuais, expondo as relações contraditórias de uma ética difícil entre a humanidade e sua lida com a natureza.

 

Expondo desde 1999, em 2012 participou da 30ª Bienal Internacional de São Paulo; um ano depois exibe a obra Tônus no Cinema do MoMA PS1 em Nova York, em 2016 realizou individual no Palais de Tokyo, Paris. Foi nomeado a uma dezena de prêmios internacionais e recebeu alguns dos maiores prêmios para arte contemporânea do Brasil, a exemplo do Prêmio PIPA 2012 e do Prêmio MASP Talento Emergente 2013. Possui obras em acervos particulares e institucionais no Brasil e no exterior, como MAM-SP, MAM-RJ e Maison Européenne de La Photographie - Paris.

  • Rodrigo Braga – um modo de ver Paulo Herkenhoff

    Numa perspectiva crítica da história da arte brasileira, a relação frictiva entre o homem e o ambiente estabelecida por Rodrigo Braga remete às pinturas Mata reduzida a carvão (ca. 1830) de Félix Émile Taunay e A derrubada (1913) de Pedro Weingartner ou mesmo aos objetos feitos com restos de queimada de Krajcberg. Nenhum dos quatro celebra a destruição ou tem o elogio do progresso na agenda. Há um lamento romântico nos três primeiros, mas não menos efetivo, diante da natureza monumental destruída. Tratam das aflições do sublime nos Trópicos luxuriantes. Rodrigo Braga não representa essa crise. Ao contrário, propõe a própria experiência da crise em situação radical do olhar. A crise, no entanto, está menos na obra e muito mais no modo de recepção da arte. Há perguntas possíveis. O que eu não sei? Quais são as leituras possíveis? O que não está visível para mim e que a obra de arte me desafia a avançar no conhecimento? O que o olhar não enxerga e, portanto, onde encontra seu limite? Arte não é serviço de ecologia nem é a sublimação da perda do Éden original. No entanto, disse Mário Pedrosa, é a maior força contra a entropia. É, então, que a arte pode nos fazer pensar sobre a perda. Essa é sua potencialidade política mais radical. Rodrigo Braga trabalha a relação inconsciente e natureza. É filho de pesquisadores na área de biologia. A ciência da vida está ali, impregnada no grão de seu discurso estético e na afetividade dessas imagens.

    A agenda da natureza de Rodrigo Braga não é a pauta do óbvio. Ele trabalha com a morte como o fator inexorável da vida. É a partir de estados de abandono e entropia que se deslinda a positividade de sua ação: onde é possível deslocar pulsão de morte para pulsão de vida? O que vejo equivocadamente? Nenhum raciocínio mecânico avança o conhecimento. O que me desassossega em Rodrigo Braga? Este é o lugar do sujeito: estabelecer uma tyché incômoda. Uma passagem de Roland Barthes em A câmara clara define a fotografia como tyché, isto é, como encontro com o real sob a perspectiva de Lacan e aproxima nosso raciocínio simbólico do imaginário Braga. “A fotografia é o Particular absoluto, a Contingência soberana, impenetrável e quase animal (tal foto e não a Foto), em suma, a Tyché, a Ocasião, o Encontro, o Real, em sua infatigável expressão”. O que floresce na Contingência a que nos expõe essa obra que recorre à fotografia para apresentar as ações de Braga? Natureza e arte são instâncias de dádiva.

     

    Paulo Herkenhoff

    Rio de Janeiro, fevereiro de 2011.

  • Textures de l'animalité. Eduardo Jorge

    Podemos ler a animalidade pelas suas texturas, pelos seus desvios. Foi Maurice Merleau-Ponty, em seus cursos sobre o conceito de Natureza que em uma de suas notas escreveu que a vida não tem a obrigação de continuar aquilo que ela começou. Esse risco de tornar um projeto inconcluso é chamado de acidente. Essas falhas que possuem uma base natural ou biológica costumavam ser distinguidas no campo da cultura, de uma vida intelectual, que assume uma coerência interna forte, cabendo à natureza uma via exterior, afinal, a humanidade a dominaria pelo seu desenvolvimento técnico. Conceber a animalidade a partir de suas tramas faz com que essa separação seja mais um modo de sustentar uma ilusão que estamos a salvo sob o epíteto humano.

    Rodrigo Braga (Manaus, 1976) é um artista que explora a plasticidade animal a partir de uma relação com o ambiente. Desde Comunhão I (2006), a reconciliação com o mundo natural acontece pelas imagens, aproximando a animalidade da performance quando o artista aparece na fotografia, quase coberto de terra com um bode morto. Essa performance, na verdade, seria um modo de fazer com que a animalidade ganhasse um tônus, como acontece na obra que apresentou na última Bienal de São Paulo, em 2012, sendo uma vídeo-instalação e cinco fotografias. Esse tônus é exposto por uma resistência mútua dos corpos animais, onde incluímos o artista. Em uma das imagens de Braga, a mão está presa a um caranguejo, em outra, um peixe repousa sobre o corpo que boia em uma canoa. Distintas situações de tônus mostram um corpo preso às árvores ou ainda amarrado com um bode. Na obra de Rodrigo Braga existe uma troca de energias que ressaltam uma passion animale. E nisso se funda a experiência do artista. Em uma das imagens do conjunto apresentado na Bienal, o artista apresenta um ser compósito que nos remete a uma forma de organizar os saberes sob a forma de uma história natural. Trata-se do neologismo utilizado pelo artista, um "biólito". Digna de uma dessas histórias extraordinárias, guardadas em um dos gabinetes de curiosidade, o objeto está no seu próprio ambiente, como se o artista se servisse de uma herança etnográfica de viajantes e exploradores para exercitar sua imaginação.

    Ao compreender a animalidade em suas texturas, Rodrigo Braga aborda a uma noção de ambiente ou de Unwelt, um meio sensorial que faz com que suas imagens captem por esse aspecto, uma comunidade. Ao dispor a matéria em vasos comunicantes, as imagens acolhem uma gama da vida vegetal e mineral e por isso o seu trabalho possa ser visto nesse momento aparentemente como um recuo, como sugere o título da sua individual em São Paulo (entre setembro e novembro): Agricultura da imagem. Agricultura, essa palavra de origem latina demarca o cultivo do solo e o conjunto de meios para transformar a produção vegetal em um ambiente natural. Ela sugere um modo de contornar a imagem no que ela há de mais técnico. Mas não nos enganemos quanto à técnica, ela está presente mesmo no ambiente alterado plasticamente pela interferência do próprio artista, que acrescenta uma ordem que nos permite explorar algo que está no mundo como um confim: um encantamento com o desconhecido e a possibilidade de rumores formam a base para algumas lendas. Nesse modo de cultivar à imagem, temos algo a contar, como raros privilegiados que viram um acontecimento e agora fundam pela capacidade de testemunho da palavra, um outro lugar a partir de um acontecimento plástico.

     

     

     

     

  • Travessias de Rodrigo Braga Maria do Carmo Nino

    Em uma obra de 2012 Sem título (animal, vegetal, mineral), ele coloca, na mesma
    linha de equivalência (a linha do horizonte) e intrinsecamente atados entre si, os três principais
    reinos naturais, o que me recorda o fotógrafo Oliviero Toscani com uma representação
    onde a imagem
    de órgãos vitais (coração) é indistinta para as três raças, na imagem indicadas
    apenas linguisticamente, como forma a nos conscientizar de uma separação de viés apenas
    ideológico.
    São todas refexões que a meu ver questionam simbolicamente os limites, as fronteiras, como
    vemos na série de obras que compõem Os olhos cheios de terra (2018). Nelas criticamente
    são vistas algumas polaridades preestabelecidas arbitrária e culturalmente (por exemplo, no
    vídeo Esquerda direita preto branco),
    o que nos faz lembrar como categorizações estanques devem ser abandonadas para conceder
    o privilégio à relação: nenhum ser é de modo absoluto, mas, ao contrário, demanda a
    ser visto no contexto, sempre é com, e, desta forma, a consideração entre natureza e cultura
    como reinos opostos cai por terra. Isso implica na necessidade de revisarmos pressupostos
    — importado das divisões disciplinares das ciências modernas e
    mesmo do senso comum - a respeito de onde ocorre a separação entre seres
    humanos e suas produções, isto é, a cultura - e não humanos — isto é, a natureza sejam eles
    animados ou inanimados uma vez que as redes sócio-técnicas a tudo imbricam junto a saberes
    e poderes como se se constituíssem em contradições concordantes.
    Uma obra que muito me cativou foi Sinais de Alam (2017), e a escolho para encerrar este
    relato amoroso de natureza bartheana talvez porque perceba nela uma espécie de condensado
    de várias ideias que permeiam o trajeto de Rodrigo como um todo. A vontade profunda
    e intensa de integração com a natureza (Alam) em um nível transcendente que acomete as
    pessoas da região do interior sul da grande ilha de Java, Indonésia, as faz perceber sinais na
    natureza que constituem forças intensas e infuenciam pessoas e paisagens, segundo
    o depoimento do artista.14 Mergulho na transcendência, no sagrado, no que afnal não entendemos:
    vida, morte, encontros, acaso, natureza, como dito antes neste texto. A vida é afnal
    sobre o que não se sabe. “Às vezes ouço passar o vento, e só de ouvir o vento passar, vale
    a pena ter nascido”, disse Fernando Pessoa. A mim pareceu um modo de viver a magia e ao
    mesmo tempo estar num plano físico, viver na ilusão de ambos os universos, reinos superior e
    inferior, barreira entre a alma superior e o ego inferior, transitando de um para o outro. Morte e
    vida como dois pontos com uma linha, inquilinos do mesmo solo entre o qual há divisão tanto
    quanto conexão. O tempo, segundo Santo Agostinho, é uma aporia,
    um ponto improrrogável
    entre o passado, que já não é, e o futuro,
    que ainda não é. Mas, quando fechamos
    nossos olhos, importa o que o silêncio
    nos diz.
    Deixemos pois que ele se espalhe.
    E que semeie.
    E que trabalhe em nós

    Sem dúvida, o trabalho de Rodrigo Braga mexe com o espectador. O público, obviamente mediado
    pela objetividade do olho da câmera — seja ela fotográfca ou videográfca —, passa por
    uma experiência que é inerente a outras artes ou, para ser mais específca, a outras imagens
    fotográfcas. Parafraseando François
    Soulages, quando este falava sobre os artistas da Geração 00, posso afrmar que Rodrigo
    Braga oferece ao espectador um mundo: o dele, “[...] que se torna o nosso por nossa recepção
    interpretativa e metamorfoseante”
    .
    Além disso, é preciso sempre pensar que, ao colocar qualquer corpo em questão, a obra
    interpela o espectador de maneira particular, incitando uma refexão que o coloca nesse corpo
    sugerido ou fgurado, “[...] corpos que se transformam, que se desdobram em nossos corpos.
    Trata-se ainda de ambiguidades de sentidos, no
    vai e vem entre o Eu e o outro” (CATTANI, 2007)
    Todavia, é relevante destacar que Rodrigo Braga não quer apenas atingir o público com uma
    apresentação de uma experiência, mas com a própria vivência. É diferente de um flme, que,
    embora seja condensado (como os trabalhos de Braga), é um tipo de verdade que realmente
    vem por outra via. Parece-me que a intenção
    dele é da ordem da experiência mesmo. Aqui, parece não haver uma nítida separação entre as
    dimensões fenomenológicas e simbólicas da obra de arte.
    Rodrigo Braga tece a si próprio na construção da sua obra — que é visceral.Como bem observou
    Maria do Carmo Nino, durante os intensos diálogos que tivemos sobre esta pesquisa,
    a gente tem que ter esse acordo tácito de que o trabalho de Rodrigo é um trabalho que mexe
    muito com ele inicialmente e depois com a gente, mas inicialmente com ele.

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