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Thomas Florschuetz

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Thomas Florschuetz

Thomas Florschuetz

1957 - Zwichau | Alemanha Oriental

Vive e trabalha em Paris e Berlim.

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Thomas Florschuetz é um artista plástico cujo trabalho fotográfico se concentra na exploração do corpo humano, mas não numa abordagem convencional de tematização. Desde o início de sua carreira, suas imagens se destacam por perspectivas radicais, revelando detalhes da superfície do corpo que tornam indistintas suas partes. A série "Early Bodyfigures" (1980-1990) marca uma fase crucial em sua trajetória, na qual ele amplia a dimensão da autorrepresentação, transgredindo os limites do eu através da documentação de sua própria performance, ao capturar fragmentos de sua identidade, como mãos, pés e rostos. 

A partir dos anos 1990, Florschuetz intensifica a investigação formal em suas obras, que se manifestam em montagens de grande escala, desafiando a noção tradicional de retrato. Seus trabalhos contemporâneos são caracterizados por uma monumentalidade provocativa, onde partes ampliadas de seu corpo se entrelaçam em composições orgânicas de cores artificiais e vibrantes, particularmente com o uso do vermelho, subvertendo a escala e a percepção da figura humana. Essa dualidade entre o caótico e o clássico confere à sua fotografia uma potência imersiva, transportando o espectador a um universo onde a intimidade do corpo se transforma em uma experiência quase liliputiana. 

  • Passageiro: Thomas Florschuetz Luiz Camillo Osorio

    Este texto de apresentação é um desdobramento de outro que escrevi para a exposição de Thomas Florschuetz na Pinacoteca de São Paulo em 2006. É muito positivo uma galeria carioca trazer para seu espaço um importante artista da cena contemporânea alemã, onde a fotografia tem um lugar tão destacado. No museu paulista tratava-se de uma exposição mais panorâmica, mas a presença da arquitetura - uma obsessão antiga - já era significativa. As possibilidades poéticas da fotografia nos últimos anos são variadas, particularmente pela recusa da oposição, tão típica da pintura modernista, entre forma e imagem. O desenvolvimento técnico e a liberdade experimental têm feito da fotografia um veículo de invenção e disseminação de uma visualidade comum. Comum no sentido de compartilhada, não no sentido de banal. Neste campo imagético onde se misturam o que é dado e o que é construído, a imagem e a forma, vemos se desenvolver a obra fotográfica de Thomas Florschuetz.

    Qualquer um em todo lugar carrega consigo uma câmera e a tendência ao registro é quase obsessiva. Tudo se torna imagem e nada surpreende o olhar. Nas imagens de Florshuetz é a surpresa do detalhe que sobressai. Nela articulam-se o visível e o invisível, nossos modos de ver e nossa capacidade de deslocar o que é visto, seja pela surpresa seja pelo estranhamento. Um elemento arquitetônico se destaca do todo e fica, ao mesmo tempo, próximo e impessoal. A sua fotografia fala pelo silêncio, revela o que não se mostra. O comum e o singular, o público e o privado, o íntimo e o impessoal são postos constantemente em tensão. A precisão técnica, sem se restringir à valorização formal, contribui para dar liberdade ao olhar, desviando-o do já sabido – vê-se o que não se mostra.

    As fotografias primeiramente seduzem o olhar e depois o levam a um movimento imaginário. Na série das arquiteturas, projetos canônicos do modernismo aparecem como resíduo de uma utopia perdida, porém vital. O que não se mostra, mas somos levados a pensar diante destas fotos, é o sonho de liberdade e impessoalidade que habitava aqueles espaços. Diante destas fotografias, surge o desespero do vazio, do não-lugar, dos espaços que por não serem de ninguém podem ser também de todos. Na verdade, esta promessa de uma forma que idealiza a indiferença democrática, de poder ser de todos, e o silêncio frio da não presença de ninguém, aparece nestas imagens de Thomas Florschuetz como o sinal em aberto de um legado moderno a ser enfrentado. Estas fotografias de arquitetura são documentos de uma vontade construtiva, de um sonho de forma vivido ardentemente pelos mestres modernos, que o século XXI deve retomar à sua maneira. Não há nelas nenhum juízo de valor, apenas um endereçamento silencioso que cativa o olhar e de um algum modo o obriga a responsabilizar-se pela possibilidade de uma forma que possa ser, ao mesmo tempo, comum e singular.

    Na nova série com torsos vestidos, vemos uma combinação similar entre o clássico e o banal,  entre a idealização do corpo e a padronização da vida - pela moda, pela indústria, pela publicidade. Nestes recortes o que interessa não é a roupa como afirmação da diferença, característica da imagem publicitária e seu apelo ao consumo, mas como elemento de uma vida impessoal, indiferente, cotidiana. É aí dentro do comum que cada um deve inventar uma vida singular.

     

    Luiz Camillo Osorio - 2006/2014.

     

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