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Thomas Florschuetz

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Thomas Florschuetz

Thomas Florschuetz

Thomas Florschuetz

1957, Zwichau, Alemanha Oriental

Vive e trabalha em Paris e Berlim

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A prática de Thomas Florschuetz concentra-se na fotografia do corpo humano, contudo, o artista não transforma o corpo em tema de sua obra. Seu principal interesse reside nos aspectos de composição. Inicialmente, trabalha com fotografias de amigos em que as imagens são caracterizadas por perspectivas radicais que apresentam detalhes na superfície do corpo  humano em que é impossível distinguir as partes que pertencem. A larga escala é exibida em séries e utiliza títulos que elucidam qualidades estruturais predominantes: Staircase, Pyramid, Diptych.

Desde 1988, o artista é mais conhecido por novas reproduções técnicas e montagens em grande escala de imagens de seu corpo, que ele chamou de “Early Bodyfigures” (1980-1990). Nessas obras, Florschuetz explorou seu interesse pela vaidade e pela subjetividade, documentando uma espécie de performance em que revelava várias partes de si mesmo – mãos, pés e rosto – para a câmera. Ele fez seus primeiros autorretratos fotográficos em 1982, e só mais tarde começou a incorporar a cor e abstração em seu trabalho. Em suas primeiras peças em preto e branco com vários painéis, fotografias de partes do corpo são organizadas em relações dissonantes evocativas da arte neo-expressionista.  Florschuetz continua a utilizar seu corpo como modelo nas novas obras, mas sua presença reduz-se a fragmentos da sua mão e rosto, que se integram em anatomias orgânicas de grandes dimensões que desafiam as limitações do termo “retrato”. Essas fotografias são agressivas em sua monumentalidade e assustadoras em sua especificidade: uma vez que os cabelos e poros muito ampliados são identificados, e o espectador, lançado por implicação, em um reino liliputiano. Florschuetz seleciona deliberadamente matizes artificiais para os fundos de suas imagens, mudando a delicada escala de cores dos tons de pele em cada fotografia. Nos anos 1990, trabalha a imagem da mão humana em vasta composições com o uso de vermelho.  Ao alterar fotograficamente o tamanho e a cor de seu próprio corpo, Florschuetz produz formas que vão do caótico ao clássico.

  • Passageiro: Thomas Florschuetz Luiz Camillo Osorio

    Este texto de apresentação é um desdobramento de outro que escrevi para a exposição de Thomas Florschuetz na Pinacoteca de São Paulo em 2006. É muito positivo uma galeria carioca trazer para seu espaço um importante artista da cena contemporânea alemã, onde a fotografia tem um lugar tão destacado. No museu paulista tratava-se de uma exposição mais panorâmica, mas a presença da arquitetura - uma obsessão antiga - já era significativa. As possibilidades poéticas da fotografia nos últimos anos são variadas, particularmente pela recusa da oposição, tão típica da pintura modernista, entre forma e imagem. O desenvolvimento técnico e a liberdade experimental têm feito da fotografia um veículo de invenção e disseminação de uma visualidade comum. Comum no sentido de compartilhada, não no sentido de banal. Neste campo imagético onde se misturam o que é dado e o que é construído, a imagem e a forma, vemos se desenvolver a obra fotográfica de Thomas Florschuetz.

    Qualquer um em todo lugar carrega consigo uma câmera e a tendência ao registro é quase obsessiva. Tudo se torna imagem e nada surpreende o olhar. Nas imagens de Florshuetz é a surpresa do detalhe que sobressai. Nela articulam-se o visível e o invisível, nossos modos de ver e nossa capacidade de deslocar o que é visto, seja pela surpresa seja pelo estranhamento. Um elemento arquitetônico se destaca do todo e fica, ao mesmo tempo, próximo e impessoal. A sua fotografia fala pelo silêncio, revela o que não se mostra. O comum e o singular, o público e o privado, o íntimo e o impessoal são postos constantemente em tensão. A precisão técnica, sem se restringir à valorização formal, contribui para dar liberdade ao olhar, desviando-o do já sabido – vê-se o que não se mostra.

    As fotografias primeiramente seduzem o olhar e depois o levam a um movimento imaginário. Na série das arquiteturas, projetos canônicos do modernismo aparecem como resíduo de uma utopia perdida, porém vital. O que não se mostra, mas somos levados a pensar diante destas fotos, é o sonho de liberdade e impessoalidade que habitava aqueles espaços. Diante destas fotografias, surge o desespero do vazio, do não-lugar, dos espaços que por não serem de ninguém podem ser também de todos. Na verdade, esta promessa de uma forma que idealiza a indiferença democrática, de poder ser de todos, e o silêncio frio da não presença de ninguém, aparece nestas imagens de Thomas Florschuetz como o sinal em aberto de um legado moderno a ser enfrentado. Estas fotografias de arquitetura são documentos de uma vontade construtiva, de um sonho de forma vivido ardentemente pelos mestres modernos, que o século XXI deve retomar à sua maneira. Não há nelas nenhum juízo de valor, apenas um endereçamento silencioso que cativa o olhar e de um algum modo o obriga a responsabilizar-se pela possibilidade de uma forma que possa ser, ao mesmo tempo, comum e singular.

    Na nova série com torsos vestidos, vemos uma combinação similar entre o clássico e o banal,  entre a idealização do corpo e a padronização da vida - pela moda, pela indústria, pela publicidade. Nestes recortes o que interessa não é a roupa como afirmação da diferença, característica da imagem publicitária e seu apelo ao consumo, mas como elemento de uma vida impessoal, indiferente, cotidiana. É aí dentro do comum que cada um deve inventar uma vida singular.

     

    Luiz Camillo Osorio - 2006/2014.

     

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