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Otavio Schipper Inconsciente Mecânico

Anita Schwartz Galeria apresenta a exposição "Inconsciente Mecânico", do artista Otavio Schipper, uma instalação sonora resultado de sua pesquisa iniciada ano passado, que investiga a natureza da linguagem e da comunicação entre objetos. O projeto é feito em parceria com o músico Sergio Krakowski, e consiste em um diálogo entre uma série de antigos telégrafos, de procedências as mais diversas, ruídos telefônicos e vozes sintéticas.  Na Anita Schwartz Galeria, Schipper irá mostrar uma instalação derivada da apresentada no Centro Cultural Maria Antônia, em São Paulo, de junho a outubro, que teve curadoria de Paulo Venâncio Filho. Agora, ele introduz um elemento novo, que vai interagir com todo o sistema sonoro criado: uma única e antiga lâmpada de filamento, que vibra de forma intermitente, apontando relações entre a iluminação ambiente e a presença sonora no espaço.

DE 25.Nov.2010 A 15.Jan.2011

Leia o texto da Exposição

A exposição Inconsciente Mecânico de Otávio Schipper, irrompe o silencio do hermético cubo branco da Anita Schwartz. Ao adentrarmos a galeria, nos deparamos com uma parafernália de máquinas, postas em uma plataforma quadrada flutuante, estruturada em quatro cantos por cabos que pendem do teto da galeria, onde se avistam telégrafos e telefones, em um ambiente escurecido.

 

Realizada em parceria com o músico Sergio Krakowski, esta instalação sonora se torna uma entidade viva a partir da interação entre ruídos telefônicos, vozes sintéticas, e o som produzido pelo funcionamento real de antigos telégrafos, coletados por Schipper, em pesquisa realizada pela internet, procedentes de diferentes localidades do mundo.

 

Com ambiente sombrio e fantasmagórico, um modelo de mundo plano e obscuro, o comportamento dos telégrafos nos aproxima da gênesis da telecomunicação. Em cena, eles se rebelam contra sua natureza, se recusam a servir de meio, e passam a ter voz ativa. Como em um processo de alfabetização, buscam referências em seu entorno sonoro, repetem mensagens, propõem estruturas rí­tmicas musicais, e criam um diálogo com vozes sintéticas que compõem maquinalmente textos acadêmicos reais. Conforme nos relatou Schipper, estes textos são referenciados em artigos científicos e retirados das próprias teses de mestrado e doutorado desenvolvidos por ele e Sergio Krakowski. Através da utilização de softwares de análise e síntese rí­tmica desenvolvidos por Sergio Krakowski, como resultados de sua pesquisa de Doutorado em Computação Musical, é desenvolvida toda a dinâmica sonora da exposição.

 

A partir destes softwares e da escolha do material sonoro capturado por Otavio Schipper, os artistas criaram juntos a primeira versão da exposição que ficou em cartaz durante o período de junho a outubro de 2010, no Centro Cultural Maria Antônia em São Paulo, contando com a produção da Anita Schwartz Galeria de Arte e curadoria de Paulo Venâncio Filho.

 

A exposição na Anita Schwartz traz algumas modificações como a iluminação precária da antiga lâmpada de filamento, que vibra de forma intermitente, apontando relações entre a iluminação ambiente e a presença sonora no espaço.

 

Com esta nova versão, a instalação sonora de Schipper e Krakowski, que nos transpõe cenicamente no cubo branco escurecido da Anita Schwartz, a uma maquinaria dos tempos da Revolução Industrial, onde são colocados em cheque os postulados da arte, desde os questionamentos históricos que cercaram investigar a realidade como única fonte de apreensão. O espelhamento do som que se rompe ao passo que os rugidos das máquinas tornam-se autônomos, com a emissão de uma nova linguagem sonora, nos conduz ao processo histórico das relações entre ciência e pensamento que nortearam as investigações em arte. Até onde a física e a matemática regeram as “propriedades da arte” que pontuaram as convergências entre a linguagem e o mundo formal da representação? Ate que ponto, atualmente, na arte contemporânea, a matemática e a física são capazes de regenerar as propriedades destas investigações? A instalação sonora do Inconsciente Mecânico de Schipper e Krakowski nos deixa encurralados pelos sentidos da audição. Os princípios teóricos que fundaram as premissas da abstração em arte centradas em sensações intermediadas unicamente pelo olhar são colocados em cheque.

 

Por intermédio de objetos reais que se comunicam, sem um compromisso com as suas funcionalidades primárias, as vibrações sonoras captadas, resultam em sensações que permeiam o fantástico e o inconsciente. Partindo deste verdadeiro ato de comunicação, entre objetos, nos confrontamos com a desconstrução de modelos, que estruturaram as bases da arte moderna - interpretações do mundo real - à passagem da total autonomia da produção de arte com a realidade. A concepção de linguagens de arte enquanto entidades puramente abstratas, que implicam em interpretações de modo infinitivamente variável, análogos a postulados da física e da matemática, nos abrem possibilidade de interagir a instalação sonora de Schipper e Krakowski com áreas de conhecimento que se dedicam a refletir arte, cada vez mais, no âmbito de investigações no campo da ciência, até então restritos a laboratórios e simpósios científicos.