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Rodrigo Braga Pedra Latente

Em Pedra Latente, o artista Rodrigo Braga apresenta obras inéditas e recentes, entre desenhos e fotografias, que aprofundam e radicalizam sua pesquisa iniciada em 2017, no Cariri cearense e nas regiões de pedras calcárias na França, onde vive desde 2018.

DE 23.Ago.2023 A 21.Out.2023

Leia o texto da Exposição

Na intersecção entre a realidade e a imaginação, um artista caminha entre terras vermelhas e florestas, erguendo espaços simbólicos entre pedras e paisagens áridas. Qual seria sua intenção? A arte, disseram, é a chave da invenção, capaz de dar forma a um novo mundo. Criar um espaço para gerar um novo mundo é um ato de coragem e visão.

Ritual e intuitivo, o artista Rodrigo Braga caminha há vinte anos em direção a uma floresta interior, buscando forjar um novo mundo que transcenda a queda do céu, o prenúncio do nosso fim. Na exposição Pedra Latente, segunda individual na galeria Anita Schwartz, o artista apresenta os últimos trabalhos da pesquisa Ponto Zero, iniciada em 2017 no Cariri cearense e levada até a região das pedras calcárias na França nos anos que seguiram. A exposição é uma pronúncia narrativa ao redor do ponto de não retorno em que se encontra a humanidade. Vivemos enquanto sociedade nas fronteiras da dureza, da estagnação, do limite e do abismo. Termo designado pelos cientistas para a era geológica contemporânea, o Antropoceno colocou o ser humano como o principal vetor da Natureza. As mudanças nas condições ecológicas do planeta desde então marcham com velocidade, com seus efeitos possivelmente já irreversíveis.

Ao encontrar com esses pilares que definem as fronteiras de domínio centrado na espécie humana, o artista parece contemplar o abismo que se estende além do visível, construindo imagens pelas brechas no tecido do desconhecido, onde existe uma promessa latente. O abismo é também a passagem, a ponte que liga o que fomos ao que seremos. Enquanto essa semente permanece adormecida, o processo de germinação está em andamento, aguardando pacientemente o momento de eclodir.

A narrativa da exposição desenrola-se de forma fluida, como uma história que se tece através das imagens. Começando na esquerda e seguindo o curso do tempo no sentido horário, somos guiados por uma trajetória que explora as dualidades intrínsecas da existência. Do negativo ao positivo, do buraco negro ao ovo, tudo emerge como partes de um universo de entroncamentos e complementariedades.

A reflexão sobre o intrincado equilíbrio da vida no conceito taoísta de yin e yang, revela a possibilidade de interação harmoniosa dos opostos. No ritmo ambiente do planeta, pulsa o batimento cardíaco constante das seivas escaldantes, pedras que existem em latência circulam no interior da Terra.

A mão segura o ovo, com seu olho íris desenhado. O ovo traz consigo o sinal do olho, um marco, catalisador de transição. O terreno vermelho, demarcado pelo vazio deixado pela pedra, simboliza o berço da pedra, é um vestígio de uma vida futura. A corrida em torno do ovo, como ritual de calor e energia, sela a conexão entre o artista e uma mirada visionária.

E então, o ovo. Transcendendo o real em direção ao surreal, o ovo é multiplicado em dois, porque a dualidade é crescente, e também a pluralidade das possibilidades. Uma pedra encontrada, redonda como um planeta, é como uma bússola para as direções ilimitadas no curso da imaginação. Planetas semelhantes a globos oculares estrábicos, pairam em órbitas que apontam para todas as direções, são narrativas para um planeta que está meio perdido. Na ânsia de abranger todos os ângulos, capturam o reflexo de um mundo fragmentado, em olhares dispersos, de uma realidade que escapa e escorre a cada tentativa de captura.

Assim como um planeta perdido, este olho é um testemunho de trânsitos que ainda não foram trilhados. Um mundo existe dentro de um olho, como um microcosmo de perspectivas. O que poderá nascer de um ovo de pedra? Uma semente, talvez, que tenha caído em terras férteis e que aguarda o momento propício para dar origem ao extraordinário.

A presença do ovo em sua forma negativa, emergindo como se tivesse sido liberado da pedra, agrega um sentido de nascimento, uma evolução a partir de um estado oculto. O processo de transformação ganha uma dimensão alquímica quando uma tocha é acesa dentro do ovo, originando chamas que irrompem de seu interior. Este ato simboliza uma vibração futura, cujo caráter pode ser tanto catastrófico quanto maravilhoso, um enigma que permanece por revelar.

Enquanto discutimos os limites que se aproximam na esfera ambiental, as obras de Rodrigo Braga irradiam vida e vigor. O ovo, inerentemente prenhe de possibilidades, arde no fluxo do fogo e da fumaça, findando um ciclo que percorre da combustão à renovação. Neste contexto, os fluxos que se assemelham a fogo e fumaça emergindo do interior do ovo encapsulam, simultaneamente, o início e o término.

Ao posicionar o ovo em seu ventre, Rodrigo evoca a mais primordial das simbologias, a gênese da criação. O fogo gerado pelo artista é o calor da própria mudança, a centelha que acende a chama de uma representação poética do nascimento da humanidade. Da pedra emerge o ovo, do ovo nasce o fogo. Dentro desta coreografia de elementos reside a essência da vida e da arte, intrinsecamente ligadas por Rodrigo Braga na eterna alquimia do porvir.

A mudança é o catalisador da renovação constante.

Bianca Bernardo.


Direita para esquerda. Esquerda para direita | Right to left. Left to right , 2023
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Íris branca/ íris preta (da série Ponto Zero), díptico | White iris/ black iris (from the Zero Point series), diptych , 2023
Carvão, pastel seco e cera dourada sobre papel de algodão | Charcoal, dry pastels and golden gilding wax on cotton paper


Ponto Zero #10 | Zero Point #10 , 2019
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Globos estrábicos | Strabismic globes, , 2021
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


- /+ , 2021
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Pedra funda | Deep stone , 2022
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


O ovo que vê | The egg that sees , 2020
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Oco do ovo | The hollow of the egg , 2022
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Rito da Cápsula de Fábulas (políptico) | Capsule of Fables Ritual (polyptych) , 2022
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Mãos com ovo vermelho (da Série Ponto Zero) | Hands with red egg (from the Zero Point series) , 2022
Carvão e pastel seco sobre lona de algodão | Charcoal and dry pastels on cotton canvas


A Cápsula de Fábulas | The Capsule of Fables , 2022
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Cápsulas de Fábulas | Capsules of Fables , 2023
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Sem título #01 (da série Ponto Zero) | Untitled #01 (from the Zero Point series) , 2023
Carvão e pastel seco sobre papel de algodão | Charcoal and dry pastels on cotton paper


Pedra Latente Desenho #01 | Latent Stone Drawing #01 , 2023
Carvão e pastel seco sobre papel de algodão | Charcoal and dry pastels on cotton paper


Pedra latente #01 | Latent Stone #01 , 2023
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper


Sem título #02 (da série Ponto Zero) | Untitled #02 (from the Zero Point series) , 2023
Carvão, pastel seco e cera dourada sobre papel de algodão | Charcoal, dry pastels and golden gilding wax on cotton paper


Sem título #03 (da série Ponto Zero) | Untitled #03 (from the Zero Point series) , 2023
Carvão e pastel seco sobre papel de algodão | Charcoal and dry pastels on cotton paper


Pedra latente #02 | Latent Stone #02 , 2023
Impressão Fine Art sobre papel de algodão | Fine Art print on cotton paper