
Sentido Comum
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta “Sentido Comum”, exposição coletiva de pintura brasileira contemporânea que inaugura no dia 30 de junho de 2022, 16h às 19h. A exposição reúne obras de artistas que partem de imagens fotográficas retiradas de acervos pessoais, arquivos, revistas, jornais, livros e da internet, para a produção de suas pinturas.
DE 30.Jun.2022 A 20.Ago.2022
SENTIDO COMUM
Por Bianca Bernardo
Na primeira metade do século XIX, com o advento da fotografia e o surgimento dos primeiros registros fotográficos, um diálogo frequente e de influências mútuas foram estabelecidas entre as linguagens da pintura e da fotografia. A exposição Sentido Comum apresenta na Galeria Anita Schwartz um grupo de doze artistas brasileiros que investigam as consonâncias e conflitos entre essas duas linguagens na arte contemporânea.
Os artistas aqui presentes partem de imagens fotográficas retiradas de acervos pessoais, arquivos, revistas, jornais, livros didáticos, enciclopédias e da internet. Outro ponto de partida é a própria história da arte. Ao se apropriarem de imagens icônicas que figuram a tradição da pintura ocidental, os artistas provocam um deslocamento semântico, e por meio de releituras críticas, detonam o aparecimento de violências e silenciamentos impostos através dessas representações. Mergulhados nas provocações próprias ao universo da pintura, o dispositivo fotográfico é uma poderosa matriz para processos questionadores das relações complexas ao redor de conceitos e das estruturas históricas hegemônicas.
Na obra de Camila Soato, encontramos questionamentos que concernem às opressões e apagamentos sofridos pelas mulheres e toda a problemática da representação do corpo feminino na arte. Pinturas também surgem a partir de outras pinturas na obra de Maria Antonia, que investiga o corpo erótico como afirmação do prazer e poder. Desde o corpo, vamos tecendo as percepções do mundo enquanto participamos de sua criação. O duplo sentido da criação ressoa e amplifica vozes entre artistas que são mães nessa exposição. Momentos afetivos e familiares são elaborados de forma poética na obra de Marjô Mizumoto, contando histórias que transcendem do biográfico para um sentido comum. Em diálogo com esse universo particular, Mônica Ventura apresenta uma imagem elaborada a partir de fotografias do seu filho amamentando. Na obra, a artista se autorretrata deitada no chão, rodeada por uma pequena criança que se multiplica, trazendo à tona sentimentos de cansaço e isolamento, entre outros desafios, que são vivenciados no atravessamento do puerpério e maternidade.
O tema da infância também está presente na obra de Rafael Carneiro, quem articula livremente formas de composição, visualmente próximos à colagem, para provocar narrativas em torno de sentimentos de perigo e liberdade. Ao olhar para a sua adolescência, Igor Rodrigues produz uma obra que conta as histórias de embranquecimento que impactaram a produção de sua subjetividade. A obra do artista deflagra a urgência do exercício decolonial da matriz eurocêntrica como referente e seu processo alienante, ampliando a discussão do papel da experiência do corpo negro na sociedade contemporânea. Na poética visual de O Bastardo, os processos de justiça social são abordados, expondo em suas pinturas a normalização da imagem e do sucesso de pessoas negras. O artista evidencia a fundamental discussão em revermos as vivências dos corpos racializados, assumindo um lugar de existência desde a perspectiva da liberdade. Herbert de Paz reconta em sua obra a história do herói Gaspar Yanga, desconstruindo os estereótipos que existem nas representações até então existentes. Do encontro de Yanga com o povo Huasteco, o artista retrata a união dos povos indígenas e africanos, imprimindo simbolicamente novos imaginários de resistência política e luta pela liberdade latino-americana.
Marcelo Amorim questiona em suas pinturas os papéis sociais construídos e impostos institucionalmente. O artista investiga como a repetição de imagens e frases de conduta, desde nossas infâncias, disciplinam e modelam os modos de ser e de se relacionar com a sexualidade e o gênero. Na obra de Douglas de Souza, elementos da cultura pop servem como alegorias dos preconceitos da experiência gay do que é a masculinidade.
O debate sobre o acervo de imagens que construíram uma história oficial está presente na obra de PV Dias. O artista reivindica a antropofagia como uma operação artística, utilizando elementos culturais nortistas na construção de novos olhares e perspectivas sobre o estrangeirismo e as narrativas dominantes.
Mundos imaginários são marcantes na prática artística de Pedro Varela, que lida com a dimensão visual da pintura em suas composições. As obras, como hipertextos, são compostas por diversos fragmentos, que ao serem reunidos pelo artista, formam uma narrativa em blocos de informações, oriundos de fontes diversas, mas que mantém suas referências singulares.
Camila Soato
Courbet sem Courbet
, 2017
óleo s/ tela
Douglas de Souza
The devil finds work for idle hands
, 2022
óleo sobre tela
Douglas de Souza
Shadowplay
, 2022
óleo sobre tela
Herbert de Paz
Gaspar Yanga, El Primer Gran Libertador de las Américas (Yanga)
, 2022
óleo e acrílica sobre tela
Igor Rodrigues
Azul da Cor do Mar
, 2022
óleo sobre tela
Marcelo Amorim
Sem título
, 2020
óleo sobre tela
Marcelo Amorim
Sem título
, 2022
óleo sobre tela
Marcelo Amorim
Sem título
, 2020
óleo sobre tela
Maria Antonia
Olympia
, 2018-2019
carvão e óleo sobre tela
Maria Antonia
Ciranda
, 2021
óleo sobre tela
Marjô Mizumoto
Hello Mr. President (Leon Mizumoto Gomes e Marie Mizumoto Gomes)
, 2022
óleo sobre tela
Mônica Ventura
Salto dos 9
, 2022
óleo sobre tela
O Bastardo
Nike (da série Pretos de Griffe)
, 2021
acrílica sobre linho
Pedro Varela
Sem título
, 2022
desenhos recortados e montados sobre painel com alfinetes
Pedro Varela
Sem título
, 2022
desenhos recortados e montados sobre painel com alfinetes
PV Dias
Força (d)e Trabalho
, 2021
pintura digital sobre fotografia pigmento mineral sobre papel algodão
PV Dias
Para um dia de sol: Verão de 2019 no Rio de Janeiro
, 2019
pintura digital sobre fotografia pigmento mineral sobre papel algodão
PV Dias
Bento Ribeiro, da série Obras Cariocas
, 2020
pintura digital sobre fotografia pigmento mineral sobre papel algodão
PV Dias
Coelho Neto, da série Obras Cariocas
, 2020
pintura digital sobre fotografia pigmento mineral sobre papel algodão
PV Dias
Marechal Hermes, da série Obras Cariocas
, 2020
pintura digital sobre fotografia pigmento mineral sobre papel algodão
Rafael Carneiro
Balthus-Chiclete
, 2021
óleo sobre tela
Rafael Carneiro
Pássaros
, 2021
óleo sobre tela