
É da nossa NATUREZA
Claudia Melli apresenta a exposição É da nossa natureza, uma série de pinturas inspiradas no universo sagrado afro-brasileiro de matriz iorubá. Com curadoria do babalorixá Márcio de Jagum, a mostra reúne nove trabalhos inéditos que transportam o espectador para paisagens que evocam a espiritualidade dos orixás. Orientada por Jagum, a artista compartilha sua percepção desse universo.
DE 09.Abr.2025 A 17.Mai.2025
No térreo, Claudia Melli apresenta a exposição É da nossa natureza, uma série de pinturas inspiradas no universo sagrado afro-brasileiro de matriz iorubá. Com curadoria do babalorixá Márcio de Jagum, a mostra reúne nove trabalhos inéditos que transportam o espectador para paisagens que evocam a espiritualidade dos orixás. Orientada por Jagum, a artista compartilha sua percepção desse universo.
“Essa exposição é resultado de uma imersão nos símbolos e significados do grupo étnico-cultural denominado nagô/ioruba. Ela trata da circularidade que conecta o ser humano, a espiritualidade e a natureza. Acho importante pensar a natureza como território de conexão com o sagrado”, reflete Melli. Sem recorrer a referências explícitas ou figuras humanas, suas obras reafirmam a ideia de que os orixás não são apenas representados pela natureza: eles são a própria natureza.
“Nas palavras da escritora nigeriana Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, essa forma de perceber o mundo não se resume apenas a um sentido, mas ao conjunto de todos. Por isso, melhor do que se referir àquele sistema como ‘cosmovisão’ (que faz alusão apenas a um deles) a autora propõe o conceito de cosmopercepção, sugerindo uma interação plena, total das sensações”, escreve Márcio de Jagum no texto de apresentação da mostra O curador destaca a presença do sagrado na obra da artista: “O divino, por si só, se manifesta no pulsar das cores, nos tons, nos sons sugeridos pelo bailado do pincel”.
É da nossa natureza marca mais um desdobramento da trajetória de Claudia Melli, que vem explorando a passagem do tempo e a natureza cíclica da vida em suas séries. “A natureza é um tema que me acompanha desde o início. Vejo nela uma forma de o ser humano se perceber como parte de um todo, como naquele instante em que contemplamos o pôr do sol ou o mar. Meu processo criativo busca traduzir essa sensação, explorando elementos e fenômenos naturais”, afirma a artista.
A monumentalidade das obras apresentadas na mostra intensifica o seu caráter imersivo e instiga o espectador a ir ao encontro da mitologia iorubá, experimentando sensações que transcendem a imagem: o som da água em movimento, o sopro do vento entre as folhas, o cheiro da terra.
Do grande pântano retratado em A Origem (500 x 127 cm), composto por oito partes, emergem narrativas que celebram cinco orixás. No centro, o mangue representa Nanã, divindade ligada à origem humana no mundo. À esquerda, suas raízes se transformam na palha de Omolu, que, mais à frente, se dispersa no ar ao ser tocada pelos ventos de Iansã. À direita, a névoa insinua a presença etérea de Ewá, senhora das mutações e das passagens. E, ao fundo, um arco-íris revela Oxumaré, irmão inseparável de O transitório e também filho de Nanã.
Com dimensões próximas à escala humana, Possibilidade, Vida (189 × 175 cm) coloca o espectador no centro de uma encruzilhada – território de Exu, orixá dos caminhos, das possibilidades e da comunicação. Diante da tela, a sensação é de estar fisicamente nesse ponto de decisão, onde se cruzam os caminhos, traçados na terra e rodeados pela floresta. Já em Como as águas, tudo podemos (120 × 170 cm), a força da água se manifesta: uma cachoeira intensa e vibrante jorra sobre folhas que refletem a luz do sol, simbolizando Oxum, deusa do ouro, do amor e da fertilidade.
A presença da água e da vegetação ganha novas formas em outras obras. Em Fartura (189 × 127 cm), a floresta densa celebra Oxóssi, enquanto Até onde podemos imaginar (160 × 80 cm) faz referência a Iemanjá no mar verde-água que se funde ao horizonte, contrastando com um céu de nuvens carregadas. Já Janela para o infinito (245 × 80 cm) apresenta nuvens brancas que evocam o aspecto etéreo de Oxalá, orixá que nunca pisou na Terra. Ambas foram pintadas sobre vidro, material que, além de sugerir transparência e movimento, remete à fluidez da água.
As nuvens ganham uma dimensão simbólica ainda mais profunda em A colheita, onde cintilam com o brilho da lua em um céu de tom índigo. Composta por seis placas de vidro de 30 × 45 cm, a obra celebra Ògún, orixá associado à lua no universo religioso afro-brasileiro. O termo Oxupá remete não apenas ao corpo celeste, no dialeto iorubá, mas também a uma divindade cujo culto não permaneceu no Brasil.
Para Márcio de Jagum, “devotos ou não, somos capazes de ver, ouvir, sentir e nos encantar com a presença dessas divindades, que atravessaram o Atlântico e aqui são respeitosamente invocadas, sutilmente reveladas, dignamente reterritorializadas”.
“O sopro, o encontro (o vento)" | “A origem, o transitório”
Acrílica sobre filme poliéster [ambas]
, 2025
128 x 244 cm [cada]
O sopro, o encontro (o vento)
[detalhe]
A origem, o transitório
[detalhe]
Fartura
Acrílica sobre filme poliéster
, 2025
127 x 189 cm
Possibilidade vida
Acrílica sobre filme poliéster
, 2025
186 x 172 cm
"Possibilidade, vida" | "Janela para o infinito #1,2 e 3"
Janela para o infinito #3
Acrílica sobre vidro
, 2025
80 x 80 cm [cada]
Lume #1
Óleo sobre tela
, 2025
30 x 20 cm
Até onde podemos imaginar
Acrílica e nanquim sobre vidro
, 2025
80 x 160 cm
Como as águas, tudo podemos
Acrílica sobre papel de algodão 300g
, 2025
140 x 175 cm