Notícias


Feiras

Gabriela Machado PARA SEU OLHAR

         A exposição 'Para seu olhar', de Gabriela Machado com curadoria de Bruna Costa, marca os 35 anos de trajetória da artista. A individual reúne uma série inédita composta por cinco pinturas de grande formato e três esculturas em cerâmica, obras que exploram a relação entre gesto, corpo e espaço arquitetônico.  A nova série resgata uma memória afetiva fundadora: a casa de fazenda do século XVIII, pertencente ao pai da artista, cujas paredes eram revestidas por afrescos de pássaros e paisagens.

 

DE 03.Set.2025 A 11.Out.2025

Leia o texto da Exposição

Gabriela Machado:

PARA SEU FAZER 

GABRIELA MACHADO - TOWARDS HER MAKING 

Em episódios iniciais de uma dita história da arte, o surgimento da pintura de cavalete coincide com uma busca pela ascensão social da atividade artística. A principal estratégia foi ligar a arte ao fazer intelectual, sendo a pintura a linguagem mais “mental” das artes plásticas. Antes da execução da pintura, viria supostamente o pensamento. Os pintores historicamente buscaram o reconhecimento da qualidade do seu fazer, e o conseguiram. Afastando-se da ideia de um ofício manual, mecânico, a pintura parece querer negar a mão. A mão, porém, ensina; o corpo não se separa da mente; o gesto tem memória. O resultado dessa conciliação aparece nas imagens pictóricas, na virtuose da pincelada e na familiaridade com a técnica, que é também expressão.  

Muito antes disso, aplicar tinta ou pigmento sobre superfície já acontecia, ocupando os planos com os quais o corpo tem mais proximidade: as paredes. Das casas aos monumentos, é como se a pintura arcaica fosse feita para abrigar o corpo, função arquitetônica. Esse fazer não desaparece com a pintura de cavalete, mas é setorizado na separação entre corpo e mente, entre belas artes e artes aplicadas; permanece no campo do trabalho, do artesão, acostumado à mão e à relação corporal com o pictórico.  

É algo dessa lembrança da imagem parietal que Gabriela Machado resgata nesta recente série de pinturas. A nova série parece resgatar essa relação entre pintura e parede, perdida com a histórica emancipação do quadro. A começar por sua dimensão alargada, da ordem mesmo arquitetônica. O quadro torna-se quase parede, adquirindo outra relação corporal. A pintura de interiores permanece na memória afetiva que não separa a produção erudita do quadro daquela vernacular. O corpo de Gabriela sempre foi rodeado de pinturas, nas paredes ou nas telas.  

Outro elemento arquitetônico trazido pela artista é o tratamento de alguns elementos da pintura como vitrais. Cores sólidas que se projetam no espaço, não é de se estranhar que atraiam em particular os pintores, mas traduzi-lo em tinta são outros quinhentos. A tradução perde do original mas ganha na nova linguagem. Ganha sem depender da luz do sol, ganha por ser mais facilmente moldado pelo pincel, e ganha ao surpreender quando suas diferentes superfícies luminosas encontram o nosso olhar.  

Existe uma qualidade na pintura que só se adquire no acúmulo de experiência, adquirida na "fazência". Trata-se do cotidiano, da doida disciplina, do conhecimento do que a tinta acrílica faz com a imagem, com as camadas, com a textura. Uma familiaridade que se ganha com o tempo e com a constância. Para chegar a uma tela grande, é necessário estar com a mão “quente”, já treinada no exercício diário da pintura. O momento de ocupar a tela é tratado como uma espécie de “ataque”, uma produção realizada quase de uma só tacada, lançada após muita preparação, sem espaço para voltar atrás. Pode-se adicionar camadas, mas não tirar. E o limite de parar é tênue, só quando a pintura adquire um dado de surpresa. É difícil se surpreender com a pintura, quando tanto já foi feito, mas a busca deve se manter no horizonte.  

O conhecido gesto, cores brilhantes, espontaneidade nas formas e a banalidade nos motivos continuam aqui, mas com novos aprendizados: a brincadeira com as camadas e texturas, o exercício das transparências, e uma conciliação entre a transformação das formas em uma função de figura sobre o fundo imaculado e a vontade de cobrir toda a superfície da tela. Em momentos diferentes, prevaleceram um ou outro procedimento, mas aqui alternam-se os dois. O resultado é essa matéria pictórica atraente que já conhecemos do trabalho de Gabriela Machado, mas com complexidade que não autoriza a passagem veloz e gratuita das imagens das telas de bolso do tempo presente, mas detém o olhar e o permite passear por cada elemento e pincelada.  

Para seu olhar traz já no título uma generosidade com o espectador, aquele que vê, pensa, mas que também se move, que sobe e desce pelas diferentes alturas desta mostra, que tem massa, volume e pulsação. Uma relação, portanto, não apenas mental, mas corporal. Se nosso corpo conseguir ser provocado por essas grandes massas de cor, a pintura torna-se, a um só tempo, parte deste mundo e dispositivo para imaginar outros. 

Bruna Costa, 2025 

Gabriela Machado
É só o dia , 2025
Acrílica sobre linho | 200 x 200 cm

Gabriela Machado
Marolinha , 2025
Porcelana | 115 x 42 x 14 cm

Gabriela Machado
Está ali na outra metade , 2025
Acrílica sobre linho | 260 x 220 cm

Gabriela Machado
Suave como os verdes (esquerda) , 2025
Acrílica sobre linho | 260 x 220 cm

Gabriela Machado
Na minha casa, se fazia luz assim , 2025
Acrílica sobre linho | 260 x 220 cm

Gabriela Machado
Esse, do lado esquerdo, acima , 2025
Acrílica sobre linho | 260 x 220 cm

Gabriela Machado , 2025

Gabriela Machado
Sem título , 2025
Porcelana | 40,5 x 43,5 x 50,5 cm

Gabriela Machado
Sem título , 2025
Porcelana | 34,5 x 41,5 x 38,5 cm

Gabriela Machado
Uma pequena luz, aqui , 2025
Acrílica sobre linho | 260 x 220 cm