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Fernando Lindote QUIMERA

Em sua primeira exposição individual na Anita Schwartz Galeria de Arte, Fernando Lindote apresenta um conjunto de pinturas que trazem, entre muitas referências, motivos predominantes de floresta, jardim, vaso e flor. Mas engana-se quem pensa serem estes os elementos primordiais das obras apresentadas ou mesmo o tema principal de investigação do artista.

DE 16.Jul.2025 A 23.Ago.2025

Leia o texto da Exposição

QUIMERA 

CHIMERA [english version]

Currículo de Fernando Lindote

    Em sua primeira exposição individual na Anita Schwartz Galeria de Arte, Fernando Lindote apresenta um conjunto de pinturas que trazem, entre muitas referências, motivos predominantes de floresta, jardim, vaso e flor. Mas engana-se quem pensa serem estes os elementos primordiais das obras apresentadas ou mesmo o tema principal de investigação do artista. O interesse primeiro de Lindote é o próprio ato de pintar e as diferentes maneiras de construir a pintura. Trata-se de um pintor que mergulha no fazer para pensar a estrutura em sua essência: as formas de aplicar a tinta sobre a superfície da tela, como usar os vernizes e trabalhar os pigmentos, a incidência de luz, os aspectos de figura e fundo. Para tanto, o artista estuda os diversos períodos da história da pintura, pesquisa a filosofia e os modos de ver o mundo de cada época para desvendar as necessidades de representação. A temática botânica é, portanto, um dos motivos que possibilitam tal investigação. Lindote poeticamente define a floresta como uma grande pinacoteca, um lugar onde muitas possibilidades de pintura estão guardadas. É através dela que ele embarca no que afetuosamente denomina “a aventura da exposição”.  

 

    Uma segunda temática que permeia o conjunto de obras aqui expostas é a reflexão crítica sobre o humanismo e a ideia do sujeito como centro, que em muitas pinturas clássicas europeias se materializa na apresentação de uma figura plena sobre um fundo coadjuvante. Em contraposição, Lindote trabalha em suas pinturas o exercício de trazer o fundo para a superfície, movimentar a figura para frente e para trás, fazendo com que cada um dos diferentes elementos presentes chamem o olhar do observador, numa dinâmica onde não há somente um, mas sim muitos protagonistas. Um estilo de estruturação diferente da pintura acadêmica clássica e na qual não renuncia à composição, mas torna o fundo mais evidente, aproximando-se de pintores modernistas como Matisse. Para tal reflexão, Lindote faz uma ponte com o conceito de humanismo como mundanidade de Edward Said1, que argumentava que as manifestações artísticas e culturais deveriam estar relacionadas ao mundo real e as questões históricas, políticas e sociais, como defendido nos debates pós-coloniais. 

 

    Neste conjunto de obras, o artista retorna ainda ao seu repertório recorrente de imagens, incorporando além de flores outros elementos transfigurados em suas pinturas: o gato, o crânio, a Serpentine dos irmãos Lumière, as carnívoras antropofágicas, o macaco... prática que o conecta ao pensamento de Aby Warburg e a ideia da recorrência das imagens, distinta da repetição pura e simples. Um processo de revisitar determinadas imagens e reinterpretá-las, apresentando-as de outra forma, em um novo contexto. Ao percorrer as pinturas apresentadas na exposição com um olhar atento, o espectador poderá observar inúmeras referências como Eugène Delacroix, Francisco Goya, Joseph Beuys, Lygia Clark, Maria Martins, Max Bill, Raymundo Colares e também elementos que remetem a temas marinhos, folhas de ouro, a figura do chat noir, macacos guardiões da orbe, crânios de gênios, o fígado de Piacenza, ícones da antiga e da atual capital do Brasil – o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro e a esplanada do planalto em Brasília.  Com tantos elementos presentes, o jardim do pintor se transforma numa quimera, uma combinação heterogênea ou incongruente de elementos diversos que quando reunidos ganham ares fantasiosos, aludindo a mitologia e a seres fantásticos, mas cujo âmago é o próprio exercício da pintura.    

 

Cecília Fortes

A cisão da superfície (vaso dourado), 2025
Óleo sobre tela
250 x 200 cm

A cisão da superfície (vaso verde), 2025
Óleo sobre tela
120 x 120 cm

Flor nenhuma, 2025
Óleo sobre tela
120 x 100 cm

O guardião da orbe, 2025
Óleo sobre tela
100 x 140 cm

O jardim do pintor, 2025
Óleo sobre tela
140 x 180 cm

A cisão da superfície (vaso amarelo), 2025
Óleo sobre tela
120 x 120 cm

Hy-brazil - hepatoscopia III, 2025
Óleo sobre tela
130x130 cm

El árbol de uno (poliptico), 2025
Óleo sobre tela
300 x 300 cm

Crânio e flor, 2025
Óleo sobre tela
60 x 70 cm

Hy-brazil - hepatoscopia IV, 2025
Óleo sobre tela
60x70 cm

Serpentine, 2025
Óleo sobre tela
120 x 100 cm