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Fernanda Quinderé Fernanda Quinderé

Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a partir de 23 de maio de 2012 para convidados, e do dia seguinte para o público, a exposição individual da artista Fernanda Quinderé, que nasceu em Brasília, em 1979, e vive e trabalha no Rio de Janeiro. A mostra ocupará o terceiro andar da galeria com trabalhos inéditos, feitos especialmente para esta exposição.

DE 23.Mai.2012 A 30.Jun.2012

Leia o texto da Exposição

Há pouco tempo atrás, Fernanda Quinderé era conhecida por suas grandes telas feitas de pequenos quadrados, como pixels, cujas cores em degradê construíam efeitos ópticos reminiscentes da arte de Victor Vasarely ou Julio LeParc. Pacientemente a artista calculava com tinta acrílica diferentes gradações de luz para uma só cor e, como se estivesse girando um botão de volume, fazia o centro da tela explodir em luz enquanto a periferia mantinha-se afastada do branco. Ou vice-versa.

 

A partir de 2010, os pequenos quadrados monocromáticos que definem a grade da composição assumiram seu caráter de pixel: a artista trocou os pincéis e tubos de tinta pelos truques do Photoshop. Não abandonou a tela, no entanto; passou a imprimir muitas dessas imagens computadorizadas em canvas branco. O resultado é, para quem olha de longe, surpreendentemente parecido com as pinturas de 2009. Mas, a questão da gradação de luz do centro para a periferia ganhou uma camada conceitual, em imagens que se sobrepõem aos quadrados de cor, e que também se transformam paulatinamente. Em “Supremacia Inútil” a artista escolheu o preto para a periferia e após inúmeras gradações de cinza consegue acender o centro da tela com um branco que é pura luz. Simultaneamente a esse processo de iluminação, a imagem de um coração anatomicamente correto passa por uma metamorfose gradativa, até se transformar em um cérebro, que por sua vez atinge o centro da tela em uma nota de ironia, transmutando-se em uma couve-flor. Essa semelhança morfológica não parece no entanto almejar gargalhadas: há algo de trágico em um cérebro que não pensa, vegetando em forma de flor, apesar de toda a luz que recebe.

 

O processo de decodificação dessas composições são desafios para o cérebro. Em algumas obras cremos estar diante de pinturas, mas são impressões digitais. Aproximamo-nos das telas com a predisposição contemplativa de quem olha um inofensivo estudo da cor e encontramos um degradê mordaz de comentários sobre nossa sociedade.

 

A iluminação serve à crítica social nessas composições. Em “E eu fico pensando quanto tempo vai levar para nós nos explodirmos” a gradação de cor começa em preto nas bordas superior e inferior da tela, passa em faixas horizontais ao marrom e ao vermelho, e termina no encontro central dessas faixas de cor, em amarelo vivo, luminoso como o fogo. Ao mesmo tempo, enquanto a cor faz seu trabalho de iluminação do centro da tela, a imagem que começa nas bordas com o famoso padrão decorativo das calçadas da orla carioca transforma-se em imagem de um morro, de favelas, até por fim virar fotografias de ônibus incinerados, sobrepostos ao amarelo-fogo da faixa central. O que é mais carioca, o piso da orla ou os ônibus em chamas?

 

Dos anos 1960 que consolidaram a Op art até hoje, o Rio de Janeiro passou da bossa-nova ao funk, da garota de Ipanema aos garotos do tráfico. As duas épocas convivem nessa tela, uma como forma, a outra como conteúdo. Fernanda Quinderé sobrepôs a vertente crítica da arte contemporânea à autonomia da arte moderna.

 

Paula Braga