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Delson Uchôa Autofagia – Eu Devoro Meu Próprio Tempo

DE 20.Jun.2018 A 18.Ago.2018

Leia o texto da Exposição

DELSON UCHOA 

Em entrevista ao programa Mais Estilo, do SBT de Alagoas, levada ao ar em 27/07/2013, Delson Uchoa esclareceu a dinâmica processual de seu trabalho: “É um processo e é sempre soma. É o que eu sabia com o que estou sabendo agora – mesmo porque eu acredito que para a arte avançar ela precisa de alicerces que são feitos de herança e tradição que seriam sua identidade. Mas o resto é experimental”. 

 

Tal declaração nos mostra que o sentido poético da obra de Delson pode ser esclarecido com base na combinação de sua identidade brasileira e nordestina com o teor experimental, conquistado por sua pintura ao longo de um processo iniciado na década de 1980 – período em que o artista, então vivendo no Rio de Janeiro, participa da Mostra “Como vai você Geração 80?” realizada, em 1984, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. 

 

É visível que a trama cromático-luminosa de seu trabalho é referenciada tanto pela visualidade popular da região em que nasceu e foi criado, quanto pela visualidade brasileira. Mas é preciso considerar também que seu trabalho, simultaneamente, se inscreve na revalorização do fazer manual, observável na arte internacional da década de 1980, como alternativa ao avanço da desmaterialização da obra, proposto pela arte conceitual. Portanto os alicerces identitários da obra de Delson baseiam-se neste amálgama culturalmente herdado.  

 

A história europeia da pintura registra que os ofícios eram separados com base em suas especificidades técnicas como aquelas que distinguiam pintura e escultura. Ainda no limiar da Renascença estes artífices eram fundamentalmente preparados para o domínio pleno de um único ofício, exercitado desde a adolescência. Sua formação era centrada no dia a dia das oficinas e dependia de processos resultantes de sofisticado aprendizado manual.  

 

Entretanto, a incorporação trans-midiática ao cotidiano atual, produzida pela profusão de dispositivos de comunicação eletrônicos, seria, inversamente, uma antítese imagética contemporânea das práticas artísticas oficinais. Em tal contexto, meios convencionais, como pintura e escultura, legados pela arte do passado, tornaram-se comumente desafios conceituais para sua própria permanência e renovação. Mas é importante ressalvar que a proficiência artesanal, ainda hoje, não é em si mesma um problema. Problemática é a crença de que trabalhos de arte resultam somente de tal proficiência.