
Shiva
DE 10.Jul.2019 A 24.Ago.2019
SHIVA
BRUNO VILELA
11.07 A 24.08 DE 2019
Em fevereiro de 2019 embarquei numa aventura para a Índia. Meu primeiro objetivo era fotografar o mais importante festival religioso dos Hindus: O Maha Shivaratri. A festa popular acontece uma vez por ano e é o dia em que o próprio Shiva toca a terra. Escolhi então uma das três cidades sagradas da Índia: Haridwar.
7h da manhã já estava na etrada do Hari Ki Pauri, as escadarias sagradas para o Ganges. “Har” significa “Lord Shiva”, "Ki" significa "de" e "Pauri " significa "passos". Acredita-se que o Senhor Shiva e o Senhor Vishnu esteram no Har Ki Pauri nos tempos védicos .
Nesse enorme banho coletivo existe um clima sagrado de profundo respeito. Já do lado de fora acontece uma festa profana de proporções enormes. Carros de som, bandas de sopro, milhares de pessoas fantasiadas, animais pintados e muitas estatuas dos deuses sendo levada pelos devotos. Uma espécie de mistura entre carnaval e procissão. No meio disso tudo vejo um homem maquiado dos pés a cabeça de um negro profundo. Estava em cima de um búfalo, virado de costas e carregava uma bacia de metal na mão de onde emanava fumaça branca. As pessoas depositavam dinheiro, flores e todo tipo de oferendas na recipiente circular. O homem era um Shivaista. Então, quando mudo o ângulo da lente da minha câmera de posição, consigo enxergar a cena contra a Luz. Nessa hora, por traz da fumaça, surge Shiva na minha frente! Realmente no dia do Shivaratri o Mahadev toca a terra e está ali, na minha frente. É a confirmação da presença do divino naquela terra sagrada.
Principal deidade do hinduísmo, Shiva é a base do conhecimento védico. A mitologia hindu deriva de três deidades: Brama (criação), Vishnu (manutenção) e Shiva (destruição e renovação). Como o Ouroboros, Shiva é a cabeça e o rabo da serpente ao mesmo tempo. Destruição e criação. A poesia e o poeta. Vishnu seria o corpo da cobra. Tudo é Shiva. Ele é o Brâhman, o indizível, o incognoscível, O Todo. O Mahadev (o grande Deus) é o Todo. E o Todo está em tudo e tudo está no Todo. Shiva é o próprio Trimurti, o equilíbrio entre Vishnu e Brama. Seu tridente representa isso, trindade. Ele toca seu tambor girando de um lado para outro mostrando que o som nem sai de um lado, nem do outro, é o som dos dois lados ao mesmo tempo. Nem lá nem cá, eo mesmo tempo lá e cá. Essa vibração entre os dois lados gera o terceiro elemento, que é Shiva. Como ouviu o Sidarta Galtama, o Buda, meditando as margens de um Rio, um professor de Citara ensinando ao aluno num barco: “Se apertar demais a corda quebra. Se afrouxar demais ela não toca”.
Foram 40 dias na Índia, mais de 11 cidades, 80 templos e incontáveis rituais pelas ruas e pequenos santuários e altares escondidos.
Esse mergulho me deu um riquíssimo banco de imagem e algumas obras prontas. Nessa primeira exposição sobre a Índia na galeria Anita Schwartz eu dedico toda a série a trindade hindu Shiva, Brama e Vishnu. Cada uma das três paredes do salão principal da galeria é dedicada à um desses Deuses. À esquerda para Vishnu, a central para Shiva e a direita para Brama.
Na primeira parede temos três obras, todas dedicadas a Vishnu, Deus hindu da manutenção. Vishnu representa o sono profundo. O vazio. O silêncio. Vishnu dorme no mar primordial e guarda toda a essência da criação. O deus então cria histórias para nos mostrar o que é o universo e de seu umbigo nasce Brama em cima de uma flor de lótus. Brama é um agente de Vishnu.