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Cadu

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1977, São Paulo, Brasil

Vive e trabalha no Rio de Janeiro

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A prática artística de Cadu lida com a criação de sistemas, máquinas, instalações, pinturas, desenhos e esculturas que incorporam elementos da natureza, questionando as barreiras da relação entre o humano e a paisagem. Sistemas com um ponto de partida definido, incorporando agentes externos no desenvolvimento de suas proposições, como o sol, o vento, os nomes da rua, que desestabilizam e geram resultados visuais inesperados. Nas palavras de Fernando Cochiarale, “ao restringir sua ação autoral ao arbítrio de regras e ao seu cumprimento, entrega-se ao destino que elas traçaram, mas também aos seus acasos, aos desarranjos do sistema criado. Atua, pois, em realidade, no intervalo entre a regra e a repetição quase mecânica do fazer que deriva. A essa diretriz poética, soma-se outra, nem sempre presente em todos os trabalhos. Trata-se da identificação dos métodos normativos de concepção e realização utilizados pelo artista, a partir dos resultados finais que obtém.”

Cadu possui bacharelado em pintura pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro; mestrado (2006), doutorado (2013) e pós-doutorado (2014/2015) pela mesma instituição. Em sua trajetória, participou de diversas residências artísticas. Recebeu a Bolsa Iberê Camargo, que lhe concedeu um programa de residência em 2001 no London Print Studio. Em 2008, foi artista visitante na Universidade de Plymouth, a convite do Arts Council (Reino Unido). Foi finalista do Prêmio Marcantonio Vilaça em 2011. Indicado ao Prêmio PIPA em 2010, 2011, 2012 e venceu a edição de 2013. Cadu foi o primeiro artista a participar do programa de residência na Residency Unlimited, em Nova York, como parte do prêmio oferecido. Em 2014, participou do projeto Plataforma Atacama (Chile) e do programa de residência InSite (México), que resultou em mostras individuais nos museus Amparo (2018) e Jumex (2018).

Recebeu o prêmio Radio Krakow 2015 (Cracóvia, Polônia) pela mostra It’s Gonna Rain. Em 2017 foi artista comissionado pela National Endowment for the Arts, Robert Wood Johnson Foundation e XLab IDEAS para trabalho em Natchez (Mississipi, EUA). Em 2018, artista foi comissionado pela HaundenschildGarage (San Diego, USA) para execução de projeto na sede da fundação.

Exposições individuais recentes incluem: Vermelho (São Paulo), Casa de Cultura Laura Alvim e Laura Marsiaj (Rio de Janeiro), D21 (Santiago) e WU (Lima). Exposições coletivas incluem: “Amor e ódio a Lygia Clark” – Zacheta National Gallery (Warsaw), 13a Bienal de Istambul, 3o Festival de Arte e Tecnologia de Moscou, 30a Bienal de São Paulo, “Art in Brazil” (Europalia Festival – Bruxelas), 4a Bienal do Fim do Mundo (Mar Del Plata), Panorama da Arte Brasileira 2011 e 2017 (São Paulo), 7a Bienal do Mercosul (Porto Alegre) e 1a Bienal de Coimbra. Cadu atualmente é professor pesquisador na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro no Departamento de Artes e Design.

  • Entre a faísca da regra e o fazer repetido Fernando Cocchiarale

    Entre o intelecto e a sensibilidade, o projeto e o resultado, a regra e a aplicação, Cadu concebe e realiza sua obra. Num caminho diverso ao do subjetivismo confessional predominante na produção contemporânea, ele cria cada trabalho a partir de uma regra explícita, qual a de um jogo, cujos resultados são sempre visuais. Em seguida aplica-a, já que tem sido seu único e principal jogador.
    Sua poética caracteriza-se, pois, pela subordinação da ação plástica à idéia (ou conceito) e, portanto, pela convicção de que, no caso de seu trabalho, a criação deve ocorrer no limite entre a ideação de regras e a feitura: não no fazer puro e simples.
    Desse ponto de vista a investigação de Cadu pode ser remetida, numa genealogia remota, à proposição de Leonardo da Vinci sobre a pintura como coisa mental.
    Entretanto seu antecedente histórico mais próximo é o da busca pela desmaterialização da obra de arte levada a cabo pelos artistas conceituais de diversos países, na passagem das décadas de sessenta para a de setenta. O mote “arte como idéia, como idéia, como idéia” cunhado por Joseph Kosuth, artista maior dessa tendência, resume bem esse projeto histórico.
    A arte conceitual não nos legou, como os Ismos modernistas, objetos formalizados, com sentido auto-referente, mas idéias materializadas numa objetivação mínima. Para os conceituais o fazer era redundante, já que a criação se dava quando vinha à luz a idéia da obra. Ainda assim, para que fossem transmissíveis, seus conceitos necessitavam, é claro, da formalização, mas sua lógica obedecia antes à da comunicação de idéias e conceitos, do que à da exibição pura e simples das propriedades poéticas e estéticas da forma plástica tomada como um fim em si mesma.
    Ainda que consideremos essa afinidade genealógica, é essencial aqui ressalvar que a produção de Cadu nada tem de nostálgica ou extemporânea. O que é digno de nota é que essa genealogia possibilitou-lhe situar seu trabalho na contramão da mainstream das artes, hoje voltadas para a arte política, étnica, das minorias e até àquelas poéticas pessoais, qualificadas a partir da subjetividade do artista.
    Diferentemente dessas tendências, ao restringir sua ação autoral ao arbítrio de regras e ao seu cumprimento, Cadu, entrega-se ao destino que elas traçaram, mas também aos seus acasos, aos desarranjos e às falhas do sistema criado. Atua, pois, em realidade, no intervalo entre a faísca da regra e a repetição quase mecânica do fazer que dela deriva.
    A essa diretriz poética de fundo, soma-se outra, nem sempre presente em todos os trabalhos. Trata-se da difícil identificação dos métodos normativos de concepção e realização utilizados pelo artista, a partir dos resultados finais que obtém.
    À primeira vista muitos de seus trabalhos podem parecer estritamente formais. Do resultado gestual dos desenhos da série Passagem de Inverno (feitos com luz solar e lente sobre papel vegetal); aos do Projeto Migrações (produzidos por um pêndulo com grafite maciço na sua extremidade inferior, montado numa caixa de tal modo que o lápis tocava o centro de um papel repousado sobre uma estrutura com base de madeira, sustentada por molas, e registrava graficamente qualquer percurso feito de carro, ônibus, etc. pré-determinado pelo artista); até aos trabalhos atuais como Swiss Made, os desenhos, pinturas e objetos de Cadu podem ser remetidos formalmente aos repertórios abstracionistas e construtivistas históricos.

    A aparência formal desses trabalhos oculta as regras rigorosas que lhes fizeram vir à
    luz. É este o maior diferencial da obra de Cadu em relação à arte conceitual. Ele não
    tem por meta, como seus antecedentes genealógicos, a desmaterialização da arte,
    mas a investigação de outros tipos de materialização, sem o concurso da subjetividade
    criadora, já que a formalização é feita por sistemas propostos pelo artista. É pois uma
    estratégia de redução do fazer criativo ao âmbito da idéia, aprofundando a cisão
    histórica entre arte e artesanato, esboçada no Renascimento e consolidada ao final do
    século XVIII.
    Dentre os trabalhos apresentados nesta exposição destacam-se, a despeito da alta
    qualidade de todos, Swiss Made, pela novidade do resultado cromático e Nefelibata,
    pela complexidade tecnológica do método. Há porém uma obra que aponta para um
    nova maneira de produzir, ainda menos subjetiva e com resultados visuais não apenas
    formais, mas icônicos. Trata-se de A Lontra, título extraído de texto de Walter
    Benjamin, sobre reminiscências das incursões de sua infância ao zoológico de Berlim.
    Da janela de Cadu vê-se ao ar livre uma escada de cimento, cuja aridez tornou –se o
    reino de uma velha cadela chamada Paloma. A observação cotidiana dessa cena
    levou o artista a perceber que “Animais confinados em cativeiro tendem a apresentar
    comportamentos repetitivos de fácil percepção (...) E Paloma é um bom exemplo. Uma
    de suas rotinas é deitar-se ao topo de uma escada e permanecer ali em vigília por
    horas.
    Esta conduta foi observada durante um longo período até o momento da interseção
    entre dois ciclos distintos, seu fechado sistema de hábitos e uma chuva repentina, que
    possibilitaram a gravação de seu contorno sobre o chão. Um desenho efêmero sobre
    sua finitude (memento mori) e a de tudo o mais ao seu redor.”
    O intervalo entre o sistema Paloma e a casualidade da chuva permitiu a realização de
    três fotografias: a da cadela deitada, a de sua saída do topo da escada e, finalmente, a
    do registro da marca de seu corpo seco no campo úmido demarcado pela chuva.
    No entanto há aqui duas novidades. O sistema parte dos hábitos e do comportamento
    de Paloma e não mais pelo que é proposto pelo artista. Além disso sua visualização só
    é possível graças à imagem técnica da fotografia. Mas o que talvez mais surpreenda
    nesta transformação é como ela deixa intacto o núcleo poético da obra de Cadu. Do
    “fechado sistema de hábitos” de Paloma, tão fechado quanto as regras de ação
    situadas à raiz de todos os trabalhos do artista, “à chuva repentina”, fruto do acaso,
    nasceram não só estas imagens enigmáticas como o conjunto de seu trabalho.

  • PROJETO MIGRAÇÕES ANNA BELLA GEIGER E FERNANDO COCCHIARALE

    Nada parece aproximar o trabalho de Cadu do de Lúcia laguna. Se o primeiro é gráfico, preto e branco, gestual, isto é investiga a temporização do espaço, o segundo é pictórico, em cores e pensado, quer dizer, pesquisa a espacialização do tempo. No entanto essas oposições resultam de uma visão unilateral destes trabalhos. Tantas são as questões que os separam, quanto as que os aproximam. Sua principal afinidade, no entanto, é a de discutirem uma mesma e ancestral questão da arte, a paisagem, ainda que lançando mão de meios muito diversos e obtendo resultados visuais quase opostos. Esse interesse comum de Eduardo e Lúcia impregna o espaço agora por eles partilhado e, com isto, empresta sentido ao seu provisório encontro num único espaço.

    O título dado por Lúcia laguna ao conjunto de pinturas desta série, Entre a Linha Vermelha e a Linha Amarela, não deixa dúvidas. Indica-nos que estes trabalhos tem origem na vista descortinada de sua casa em São Francisco Xavier, próximo à Tijuca: ao fundo o morro da Mangueira, antes dele os edifícios, telhados, um trecho da Linha Vermelha, atrás, invisível mas presente, a Linha Amarela. No entanto Lúcia não toma a paisagem enquadrada pelas janelas de sua casa como um modelo naturalista. Ela a perscruta por meio de seu olhar atento e observador, mas poético. Lenta e por vezes velozmente desloca-se por sobre telhados, prédios e espaços e parte para um sobrevôo onde nada mais parece demovê-la.

    Percebe-se que nada em sua pintura é arbitrário, isto é, o acaso, ali, não se dá por meio de meros jogos combinatórios ou permutáveis, tão freqüentes na pintura. Ela o exerce (o acaso) para poder apontar, encaixar, permitindo que se possa entrever certas arestas e vestígios de suas indecisões anteriores assumidas como uma questão importante para a ordem sensível dos trabalhos. Por isso nas pinturas de Lúcia Laguna partes parecem se afastar, quase ilusoriamente, através de passagens no interior destes espaços, nichos, ou se aproximar pelas densas camadas cromáticas de uma materialidade essencial da pintura. E, como num julgamento, tudo vai sendo aos poucos ocupado ou desocupado, removido ou trazido de volta, resgates onde ela quer ser a mais justa, a mais implacável possível, na sua relação com os elementos envolvidos nesses processos.

    Apesar da predominância linear horizontal (listras, retângulos e demais elementos geométricos) necessária para preservar o espaço ocidental consagrado à paisagem, estes trabalhos evocam o rigor da abstração informal e podem ser a ela genealogicamente remetidos: o modo como são engendrados os problemas, intencionalmente mas com surpresas; as possibilidades de solução pelo tratamento expressivo; a estruturação do espaço feita a partir de algumas diretrizes prévias, mas centrada no processo. Entre a linha vermelha e a linha amarela produz-se o hiato necessário para a mediação poética entre a paisagem urbana real e concreta, e as paisagens somente pictóricas pacientemente trabalhadas por Lúcia Laguna.

    Para o projeto Migrações Cadu criou um sistema mecânico que registra as vibrações provocadas pelas irregularidades do calçamento das ruas ao longo de percursos pré-determinados. Semelhante a um sismógrafo este aparelho pode ser, por exemplo, instalado no interior do porta-malas de um automóvel, embora já tenha sido também usado em outros meios de transporte (como ônibus, trens, barcos) de diversas cidades. Presa à tampa do porta-malas, conforme declaração do próprio artista “pende uma peça composta por uma pequena base de madeira e uma única mola, prolongada em uma de suas extremidades por um tubo oco de alumínio, que abriga, em seu interior, um lápis em grafite maciço. Esse lápis toca o centro de um papel repousado sobre a primeira estrutura”. Durante o deslocamento do veículo o lápis vibra e grafa, por acúmulo, no centro de um mesmo papel colocado na base do porta-malas, o tempo transcorrido em trajetos que vão de 100 a 1000 Km.

    O resultado aleatório dos registros, independente da vontade e do gesto artístico de Eduardo, parece por um lado não combinar com a precisão que nossa cultura técnica espera de um aparelho, por outro lado, os grafismos que dele resultam, sugerem a expressão poética de um sujeito que, ausente da produção efetiva dos desenhos, na qual é substituído por um mecanismo, restringe-se à autoria da idéia. Como se agindo entre a farsa e a verdade, entre a subjetividade e o mecanismo, Cadu permitisse a emergência de aspectos inexoráveis do desenho tanto em seu aspecto autográfico, como no diagramático e no conceitual.

    Ao utilizar meios emprestados de outras disciplinas, como o seu método de registro estatístico, e agentes extra-artísticos, tais como o percurso de diversos meios de transporte, o artista confronta-nos, aqui, com padrões a respeito dos quais não temos referências ou parâmetros anteriores. Mas se o desenho é uma forma de escrita cujos instrumentos são linhas, marcas e espaço, reconhecemos nestes resultados seu ato essencial. Metáforas do espaço e do tempo, os gráficos criados por Eduardo Costa ampliam o campo de possibilidades da paisagem na arte contemporânea.

     

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